Os cavalos também se abatem, nome de livro, filme, frase feita, lugar comum. Muito já se escreveu a propósito. Muitos são os que a usam. Preguiça para pensar? É mais fácil usar uma frase feita? Ou porque são rápidos no gatilho?
Que sei eu?! Quase me apetece responder - eu sei que nada sei.
Cada vez sei menos, na verdade. E se por um lado me inquieto, por outro ocorre-me que quanto mais dúvidas tiver, mais perto estou da sabedoria, porque me proponho a questionar.
Os cavalos também se abatem, é mais uma resposta reflexa estimulada por outra frase do lugar comum - Uma mulher de armas.
Pergunta um pouco inconsequente - Doente? Que é isso? És uma mulher de armas.
Resposta disparada à queima roupa - Os cavalos também se abatem.
Depois, bem… fragilizada que estou com umas dores que me prostraram e me fazem sentir à mercê do universo, ao deus dará, para lá de mal, enfim, com um problema que, sozinha que vivo, não posso ter, fico a pensar no que transmito aos outros.
“ Mulher de armas “. Como posso eu ser uma mulher de armas? Não tenho licença de uso e porte de arma. Não sei disparar. Não sou sequer uma armeira.
No máximo, serei uma armada. Não da marinha, mas aos cágados, ao pingarelho, aos cagaréus, em parva, em esperta, em mete nojo, em carapau de corrida, em boa…
Por vezes pareço armada até aos dentes, mas na verdade, nem tudo o que parece, é. Coisa de, vale mais sê-lo que parecê-lo, que por não ser verdadeiro, cai por terra, como os cavalos que também se abatem. Ou a tanga de que não basta sê-lo, tem de parecê-lo como à mulher de César e que também não se aplica aqui. Pois que me revejo constantemente em personagem, pelo que já não sei o que sou, quem sou ou porque sou. E é aqui que a porca torce o rabo. Quer-se dizer, meia dúzia de chicos espertos, iluminados, fãs, amigos, ou simples observadores do ser humano, passam-me a mão pelo pêlo para me mimarem, julgam conhecer-me ou quem sabe conhecem mesmo e vêm-me qual Maria da Fonte, Catarina Eufémia ou Rainha N’Jinga num siga a marinha, para a frente é que é o caminho, que a morte é certa e não és nem flor de estufa nem pessoa de encanar a perna à rã, por isso deixa-te de frescuras que a cama é p’ra dormir e pouco mais, sendo que o pouco mais não tem forçosamente que ser na cama, e circula, que circular é viver e esse mambo aí, de gente fraca não é p’ra ti…
E é assim que dou por mim a imaginar-me essa mulher poderosa que conduz a sua vida com tenacidade, força, altivez, elegância, como os cavalos. Que afinal, também se abatem.
Dou por mim a pensar que as doenças também se combatem. Com teimosia, coragem e garra. Pelo menos os pequenos e temporários males.
Dou por mim a pensar, claro está, que, sendo hipocondríaca, estou a armar ao pingarelho querendo ser uma mulher de armas, armada até aos dentes, e ninguém dá por nada. Ou dá?
Dou comigo a sorrir perante a ideia que fazem de mim, que me querem transmitir e que faz melhor que um Melhoral que nem faz bem nem mal.
Sou humana, não é?
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