Saí de casa já era noite. A cidade cheira bem. As flores espalham o seu perfume adocicado.
Percebe-se a primavera no ar fresco da noite que não chega ao arrepio.
Há grupos de mulheres caminhando apressadas como se fossem apanhar o comboio ali para as bandas dos Riachos ou do Entroncamento. Como se costuma dizer, com o fogo no rabo. São as hormonas aos saltos. A praia no dobrar da esquina deste tempo quente. As gorduras necessitando ser eliminadas. É a vontade de ser bonita, agradar e ser desejada.
Desço a rua. O ginásio da Lena C. está ao rubro. Todas as noites a sala das máquinas tem as portas abertas e da rua podemos ver o andamento destas pessoas que malham sem parar, ajudadas pelo PT.
À minha frente reconheço as traseiras de um homem especial. O andar e a forma de vestir. O tamanho imenso.
Tenho uma amiga à espera no fundo do viaduto. Hesito entre atravessar a rua seguindo o meu caminho ou apressar o passo para lhe chegar e assim cumprimentá-lo. Não posso deixar uma pessoa à minha espera no fundo do viaduto já noite escura. Não que seja perigoso mas é concerteza intrigante para a mentalidade de certas pessoas. Ainda há quem pense que há gente no " ataque ". Pobre da minha amiga. Ocorre-me outra, que brinca com as histórias das violações, nós que trabalhamos todas com o mesmo, e que diz sem o menor pudor que se alguma fosse violada tinha de colaborar...coitada da minha amiga! À minha espera no fim do viaduto numa cidade que a partir das oito da noite não mexe senão à sexta-feira e sábado quando caem cá todos os forasteiros que acham a noite em Torres Novas, fantástica, só porque lá na terra deles não têm discotecas nem uma praça 5 de outubro cheia de bares e de gente a beber copos e a ouvir música nas esplanadas.
Quase sem querer, atravessei a rua. O Luís M. olhou para trás. Como frequentemente acontece quando parece que algo nos obriga a olhar para trás. Sorriu, voltando-se para a estrada e atravessando-a.- Olá! Hoje vais andar sozinha? Então e a Manuela?- Está de férias, mas tenho outra amiga à minha espera.
- Estás em forma?! Cada vez te acho melhor. Quantos quilómetros?
- Sete. Mais ou menos. E aqui para nós que ninguém nos ouve, domingo fui fazer a meia-maratona. - A sério? Isso é muito bom. Quanto tempo demoraste? - Hora e quarenta mais ou menos. O Luís M. é uma boa pessoa. E sábio. E deixa falar o poeta, o cartoonista, o desenhador, o reflexologista.E disse-me que eu estava mais bonita. E eu percebi. Com as letras todas o que os olhos do Luís lêm.- Não te empato mais. Vai lá ter com a tua amiga.
- Sete. Mais ou menos. E aqui para nós que ninguém nos ouve, domingo fui fazer a meia-maratona. - A sério? Isso é muito bom. Quanto tempo demoraste? - Hora e quarenta mais ou menos. O Luís M. é uma boa pessoa. E sábio. E deixa falar o poeta, o cartoonista, o desenhador, o reflexologista.E disse-me que eu estava mais bonita. E eu percebi. Com as letras todas o que os olhos do Luís lêm.- Não te empato mais. Vai lá ter com a tua amiga.
E eu fui. E andei como noutras noites. A cidade já mexe mais qualquer coisita. É do calor que se faz sentir. E do verão na curva do caminho espreitando para todos.
2 comentários:
olá. sabe sempre bem ouvir um elogio desses e não é mentira nenhuma o que ele lhe disse. beijos e um bom fim de semana. bom descanso
Obrigada Nuno.
Bom fim de semana.
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