foto tukayana.blogspot
Acordei cedo. Nunca fiz sala na cama. Tenho p'ra mim que a vida é tão boa que é um desperdício perdê-la, dormindo. Sei que há muito quem diga isto, continuadamente, eu também pois que deve ser um pensamento recorrente de quem tem insónias. Eu não, mas penso de igual forma. Depois de um jantar de sábado numa mistura saudável de quatro gerações, bem degustado, pela fotografia podem ver que não faltaram as petingas fritas, houve quem dissesse que era peixe-rei, não interessou, o que foi, morreu, couves com feijão, coelho à caçador e doces vários, de conversa animada, de alegria das crianças e boa disposição de adultos, mergulhei no vale dos lençóis polares, que ainda não tirei porque as noites continuam frias, eu sou daquelas que desde que os tais polares apareceram, durmo de braço dado com eles e não tenho frescuras de - ai que horror, não gosto nada, nem gosto de lençóis de flanela, quanto mais... Mas o que é que é isso? Eu até já dormi no chão. E em colchões de sumauma, e de palha, que era preciso bater de manhã para ficar lisinho e não magoar à noite, eu já dormi sentada, enrolada no sofá, para os pés, atravessada, na direita e na esquerda e até já dormi em pé, uma vez que vinha do Porto num domingo à noite, depois de uns dias de gandaia tanta, com a minha amiga/ madrinha e mais duas, que o cansaço e os magalas que iam para Lisboa ocupando tudo quanto era lugar me impediram de sentar até Coimbra. Eu até já passei noites sem dormir...
Acordei cedo. O sol entrando pela janela que os estores, que não sobem mesmo até cima, deixam entrar. Tenho três janelas com os estores estragados e ainda não encontrei quem mos arranjasse, mas adiante, que não me parece interessante pagar coiro e cabelo para me arranjarem estores, por isso tenho esperança que um amigo, sim porque há-de ser homem pois mulher não sabe arranjar coisas destas, tenha compaixão de mim, me perdoe todos os pecados e perca um tempinho na minha casa a custo zero, ou vá lá, um copo. Não pode é escolher muito que tirando os licores que o mano Zé me oferece, confecção caseirinha, ele é de pêssego, de fisalis, ele é de ameixa e outros que me deixam sempre um pouco a rir que nem perdida ou me estragam um par de botas novinhas em folha que dou como perdidas, dizia eu, tirando os licores, há Porto, champanhe, um uisque de malta velhíssimo guardado para o casamento de filhos, num tempo em que eu achava piada casar filhos, ainda bem que me curei e eles também, pois, não me parece que haja mais algum álcool senão umas garrafinhas pequeninas de avião, cuja origem se forem espertos percebem qual é mas eu não vou aqui confessar, claro. E há água, limonada, sumo de laranja, coca-cola, leite, café, chá, por isso qualquer amigo não se sentirá muito defraudado se quiser beber um copo.
Liguei a televisão e voltei para a cama. Essa é outra. Há gente que acha que quarto é para dormir e fazer o amor e não para ver televisão por isso é ponto d' honra que não pode, fica proibido de ter televisão. Não devem dormir senão nos seus quartos. Só pode. Ou será que quando ficam num hotel não é a primeira coisa que fazem, acender a televisão? Ora, deixem-se lá de tretas...claro que cada um sabe o que quer, digo eu, e se não acha necessário ver uma televisaozita antes de dormir, óptimo, eu cá gosto, mas também sei que sou de boa boca, só não gosto de porrada...
Acordei cedo. E é domingo. Não sei se é especial. Sei que me sinto especialmente viva e lúcida. Feliz. Só porque é domingo e estou viva. A sério. Juro por sangue de cristo. Com a mão passando no pescoço e tudo para ficar mais credível.
Acordei cedo. O sol entrando pela janela que os estores, que não sobem mesmo até cima, deixam entrar. Tenho três janelas com os estores estragados e ainda não encontrei quem mos arranjasse, mas adiante, que não me parece interessante pagar coiro e cabelo para me arranjarem estores, por isso tenho esperança que um amigo, sim porque há-de ser homem pois mulher não sabe arranjar coisas destas, tenha compaixão de mim, me perdoe todos os pecados e perca um tempinho na minha casa a custo zero, ou vá lá, um copo. Não pode é escolher muito que tirando os licores que o mano Zé me oferece, confecção caseirinha, ele é de pêssego, de fisalis, ele é de ameixa e outros que me deixam sempre um pouco a rir que nem perdida ou me estragam um par de botas novinhas em folha que dou como perdidas, dizia eu, tirando os licores, há Porto, champanhe, um uisque de malta velhíssimo guardado para o casamento de filhos, num tempo em que eu achava piada casar filhos, ainda bem que me curei e eles também, pois, não me parece que haja mais algum álcool senão umas garrafinhas pequeninas de avião, cuja origem se forem espertos percebem qual é mas eu não vou aqui confessar, claro. E há água, limonada, sumo de laranja, coca-cola, leite, café, chá, por isso qualquer amigo não se sentirá muito defraudado se quiser beber um copo.
Liguei a televisão e voltei para a cama. Essa é outra. Há gente que acha que quarto é para dormir e fazer o amor e não para ver televisão por isso é ponto d' honra que não pode, fica proibido de ter televisão. Não devem dormir senão nos seus quartos. Só pode. Ou será que quando ficam num hotel não é a primeira coisa que fazem, acender a televisão? Ora, deixem-se lá de tretas...claro que cada um sabe o que quer, digo eu, e se não acha necessário ver uma televisaozita antes de dormir, óptimo, eu cá gosto, mas também sei que sou de boa boca, só não gosto de porrada...
Acordei cedo. E é domingo. Não sei se é especial. Sei que me sinto especialmente viva e lúcida. Feliz. Só porque é domingo e estou viva. A sério. Juro por sangue de cristo. Com a mão passando no pescoço e tudo para ficar mais credível.
A Pitanga que iniciou uma semana mais coisa menos coisa de período difícil da sua sexualidade ( tem de se aguentar à bronca pois então ! ) corre-me para a janela, salta a televisão, inventa inimigos invisíveis para mim, assanha-se toda e acaba aninhada ao meu lado, derrotada, olhando-me num azul mais celeste que nunca de gata linda e siamesa.
Falo com Dili. Está anoitecendo nesse fim do mundo onde se pode viver melhor do que na europa, onde tudo é mais genuíno e simples. Onde o sô Santos tem um neto, o avô Carvalho um bisneto e eu um sobrinho, fazendo pela vida e dando um pulo nas suas capacidades que não precisavam de diploma para serem reconhecidas mas que o diploma atesta e faz dele um profissional de privilégio em terras de Xanana Gusmão e Ramos Horta.
Dá-me a fome. Abro o frigorífico. Geleira, na minha terra, nem percebo como passei a chamar de frigorífico como qualquer tuga o faz. Diz que água mole em pedra dura tanto dá até que fura. Deve ter sido para me entenderem melhor. Como jinguba que foi substituída por amendoim, baleizão por gelado, curitas por penso rápido, xuinga por pastilha elástica, matumbo por burro, kinga por espera, aka por xiça...
O frigorífico está cheio. Gosto de ver. Herdei do sô Santos esse prazer de casa farta. O meu frigorífico tem de tudo, hoje. Até mousse de manga que fiz no dia da mulher para oferecer às visitas mulheres que vieram comemorar o dia comigo. Sopa de peixe. Queijo da serra, daquele de tirar com a colher, directamente da Serra da Estrela numa oferta que me chegou às mãos que abri para receber num prazer de salivar só de pensar. Tenho leite, iougurtes, patês, fruta, legumes, azeitonas, doces, manteiga. É isso. Decidi fazer umas torradas, derreter a manteiga como fazem nas pastelarias, preparar leite com café solúvel que não é senão uma mistura de cevada, chicória e outra que nem sei bem o que é. Serve. E saborear como em velhos tempos. Molhando as toradas no leite castanho e quente açucarado mas pouco. Salivo de novo. Porque será que só molhamos pão no leite ou fazemos sopas, na nossa casa? Parece mal em público.Frescuras.
Na minha kamba Milú lá em Luanda, desde flocos de aveia feitos de propósito a café com peixe frito, os nossos pequenos almoços são tão felizes que me lembram os outros mais lá para as bandas da avenida brasil, de leite com café e ovos estrelados ou então pastelão de chouriço e cebola. E os de empadas de galinha da Royal, prego no prato com pikles e ovo estrelado, quando ia à baixa com o sô Santos e nos encontrávamos com o tio Augusto no café em fente ao Comando da Policia, no Tijuca.. Jesus maria! O que é que eu tenho hoje?
Acordei cedo. É domingo. Estou feliz, só porque sim...
Falo com Dili. Está anoitecendo nesse fim do mundo onde se pode viver melhor do que na europa, onde tudo é mais genuíno e simples. Onde o sô Santos tem um neto, o avô Carvalho um bisneto e eu um sobrinho, fazendo pela vida e dando um pulo nas suas capacidades que não precisavam de diploma para serem reconhecidas mas que o diploma atesta e faz dele um profissional de privilégio em terras de Xanana Gusmão e Ramos Horta.
Dá-me a fome. Abro o frigorífico. Geleira, na minha terra, nem percebo como passei a chamar de frigorífico como qualquer tuga o faz. Diz que água mole em pedra dura tanto dá até que fura. Deve ter sido para me entenderem melhor. Como jinguba que foi substituída por amendoim, baleizão por gelado, curitas por penso rápido, xuinga por pastilha elástica, matumbo por burro, kinga por espera, aka por xiça...
O frigorífico está cheio. Gosto de ver. Herdei do sô Santos esse prazer de casa farta. O meu frigorífico tem de tudo, hoje. Até mousse de manga que fiz no dia da mulher para oferecer às visitas mulheres que vieram comemorar o dia comigo. Sopa de peixe. Queijo da serra, daquele de tirar com a colher, directamente da Serra da Estrela numa oferta que me chegou às mãos que abri para receber num prazer de salivar só de pensar. Tenho leite, iougurtes, patês, fruta, legumes, azeitonas, doces, manteiga. É isso. Decidi fazer umas torradas, derreter a manteiga como fazem nas pastelarias, preparar leite com café solúvel que não é senão uma mistura de cevada, chicória e outra que nem sei bem o que é. Serve. E saborear como em velhos tempos. Molhando as toradas no leite castanho e quente açucarado mas pouco. Salivo de novo. Porque será que só molhamos pão no leite ou fazemos sopas, na nossa casa? Parece mal em público.Frescuras.
Na minha kamba Milú lá em Luanda, desde flocos de aveia feitos de propósito a café com peixe frito, os nossos pequenos almoços são tão felizes que me lembram os outros mais lá para as bandas da avenida brasil, de leite com café e ovos estrelados ou então pastelão de chouriço e cebola. E os de empadas de galinha da Royal, prego no prato com pikles e ovo estrelado, quando ia à baixa com o sô Santos e nos encontrávamos com o tio Augusto no café em fente ao Comando da Policia, no Tijuca.. Jesus maria! O que é que eu tenho hoje?
Acordei cedo. É domingo. Estou feliz, só porque sim...
1 comentário:
Que textos bonitos eu li agora.
Parabéns Clarinha.
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