Tocou o telemóvel. Estava na minha hora de almoço. E não era nenhuma das minhas pessoas. Aquelas que me ligam e eu não estranho. Era alguém que raramente me liga.
- Era para dizer que o B. faleceu.
Senti um arrepio. A morte do B era uma morte anunciada. Há quase 3 anos. Mas foi como que um soco no estômago.
- Estou a ligar para dizer aí. Não sei ainda quando é o funeral.
Não fiz perguntas. Apenas ouvi e desliguei. E pela primeira vez na minha vida tive de dar a notícia do falecimento de alguém a um grupo de pessoas que conhecem o B e que com ele trabalharam, mais, ou menos anos. E foi difícil.
Senti um arrepio. A morte do B era uma morte anunciada. Há quase 3 anos. Mas foi como que um soco no estômago.
- Estou a ligar para dizer aí. Não sei ainda quando é o funeral.
Não fiz perguntas. Apenas ouvi e desliguei. E pela primeira vez na minha vida tive de dar a notícia do falecimento de alguém a um grupo de pessoas que conhecem o B e que com ele trabalharam, mais, ou menos anos. E foi difícil.
Entrei no tribunal velho, no centro da então vila, pela primeira vez há 36 anos. Estávamos no ano de 1975. Dali até ao estágio foi um ápice. Dei sorte. O tribunal tinha duas secções de processos e uma secção central. Na segunda secção trabalhava o B. Um jovem da minha idade. Uns meses mais velho. Era um rapaz simpático, muito delicado e de uma educação refinadíssima. Com um humor giríssimo. O B, era um gentleman.
Fazia parte da nata da vila. Creme de la creme. A Abidis e o Clube eram os lugares onde circulava e parava. Os grupos de amigos, os mesmos que eu conhecia, com algumas diferenças pois eram o que hoje se chamam de betinhos, que se passeavam nos carros que os pais ofereciam logo aos 18 anos, nos seus casacos de samarra, com gola de pele de raposa, botas tacão de prateleira, à ribatejano, e tertúlias por esse Ribatejo fora, com poiso na Golegã. No verão zarpavam para a Nazaré para o engate das francesas, suecas e outras que ali passavam férias. Tratavam-se por você e só abriam o grupo para entrada de quem lhes caísse no goto. Ou fosse betinho. Eram amigos dos meus primos Artur e Luís e isso era meio caminho andado para me verem com bons olhos. Foi um tempo engraçado, esse. Que passou quando uns terminaram os cursos em Lisboa e tiveram que se fazer à vida, outros casaram e outros como o João S. por aqui se foram orientando dando outro rumo às suas vidas. A vila passou a cidade. Cresceu. Os filhos nasceram. O tribunal continuou. O B. foi meu colega. Era meu colega ali, lado a lado, todos os dias. Até ficar doente.
Hoje partiu.
Nunca estive num velório onde as pessoas sorrissem tanto. Eu própria. Acho que o B. também sorria. Se bem o conheço, até terá feito umas quantas piadas ao ver entrar determinadas criaturas. A nata. Creme de la creme desta cidade moribunda.
Nunca estive num velório onde as pessoas sorrissem tanto. Eu própria. Acho que o B. também sorria. Se bem o conheço, até terá feito umas quantas piadas ao ver entrar determinadas criaturas. A nata. Creme de la creme desta cidade moribunda.
Eu e a Ana conhecêmo-lo de sempre. Desde menino. Do tribunal velho...
Ficou-nos frases como: Nem mais um militar para a Guiné, quando encerrava o computador às 17 horas.
Ou: Depressa e bem, só coices. E ainda : Sou um animal de pêlo, mais do que de cabelo. Ou: eláce!
O tempo do B. terminou. Será recordado sempre. As suas frases e piadas foram ao longo destes 3 anos repetidas e gargalhadas e vai continuar a ser assim porque no fundo todos sabemos que o B. era diferente.
E todos gostavam dele. Era um gentleman.
1 comentário:
olá. lamento a morte do seu amigo e ex-colega de trabalho. um abraço para si. beijos
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