segunda-feira, 26 de março de 2012

olha eu...


A noiva é a Ana Maria Martins, minha amiga de infância. Da Vila Alice. Filha dum amigo do meu  pai. 
Não fosse termos fugido para casa deles naquela tarde, dia feriado, quando os confrontos entre os movimentos armados se agudizaram ferozmente após a manhã sangrenta e tão assustadoramente barulhenta das rajadas e dos morteiros ali mesmo ao lado, parecia que estavam a fazer ricochete no prédio da pastelaria Gentil e nos iam entrar casa dentro, não na minha mas na da dona Rosa, mulher de um dos caçadores de pacaças e veados, meus vizinhos, onde eu me sentara numa cadeira da cozinha, assustada e conformada com a triste sorte e hoje não haveria ninguém para contar a história duma manhã, igual a tantas outras desse ano de 1975. 
Porque sô Santos achou por bem juntar-se a amigos, em lugar mais resguardado e eu teria ido para as alminhas sem saber ler nem escrever nas entrelinhas duma batalha que parecia visar a população da avenida brasil e da Vila Alice mais do que atingir outro propósito. Fizemos o que o sô Santos decidiu e passámos a tarde e a noite em casa da Ana Maria à espera que  os confrontos terminassem. Quando finalmente o silêncio se fez ouvir e se averiguou que tinha havido tréguas entre os dois movimentos armados que se confrontavam, verifiquei que no lugar onde estivera sentada havia um buraco provocado por um roquet sabe-se lá de quem, vindo sabe-se lá de onde. Escapei por uma unha negra e passados 36 anos mais coisa menos coisa aqui estou ainda a exorcizar isto. Mas não é sobre coisas tristes que quero falar.  Mas da foto.
Ontem, depois de alguém ter publicado no facebook num grupo de que sou membro,  a igreja  Nossa Senhora de Fátima, pertinho da Vila Alice e da minha casa, lugar de culto onde tive catequese, onde fiz as comunhões todas que há para fazer, onde vi casar imensa gente, onde joguei às pedrinhas nas escadas, onde há um santo negro num altar, onde o padre Apolinário era temido mais que respeitado e o padre Luís era querido de todos os que ali iam, onde paguei uma promessa de joelhos, diz a minha amiga Fatinha Garnacho, que também a cumpriu tal como eu,  não me lembro nada disso, mas pronto, se ela o diz eu acredito, tudo porque tivemos um momento de lucidez (?) e percebemos que podiamos chumbar por andarmos de bicicleta alugada ao sr. Arlindo dias a fio, enfim, a igreja que era como a minha casa num tu cá tu lá que só quando gostamos tratamos, então, depois de terem publicado a dita foto, e eu a ter visto, porque gosto  de comentar o que se publica, acho deprimente alguém publicar seja o que fôr do interesse de todos e não ter sequer um gosto, a verdade é que depois dela ter dito que casara naquela igreja, eu comentei dizendo que tinha ido ao seu casamento. Não acrescentava nada mas dizia-lhe que me lembrava. Foi então quando ela procurou as fotos do casamento e encontrou este exemplar,, raro, precioso para mim. 
Eu,  tal qual era com 19 anos. Um pouco armada em mete nojo, pois aquele cabelinho não era para todos os dias, mas pronto. Eu de amarelo. A fazer pandã com a sandaloca. Eu com 59 kgs, que até me invejo nesse tempo. Eu, ainda jovem, crédula, inocente e feliz...  
Se me tivesse saído o totoloto não teria ficado tão emocionada.
O encontro com o passado, comigo, com aquele tempo provocou-me uma alegria imensa e umas lágrimas. Não sei de quê...mas provocou. 
Obrigada Ana Maria. 

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