terça-feira, 28 de junho de 2011

a janta

Não há como jantar com a minha caçula, para me passarem os achaques. Olhando no fundo dos seus olhos, não há tristeza que resista. Nem saudade de coisa qualquer. O acidente do Angélico, lembrou-nos outro. Lembrou muito. Lembrou tudo. A velocidade não era a mesma, nem a hora, nem o local nem a falta de cinto. Mas a consequência, foi terrível. Tem sido dolorosa. Cada vez menos. Não porque passou muito tempo ( 4 anos ) mas porque o meu herói recupera devagar, mas recupera. Há pessoas, muitas, que ainda não sabem que vão morrer. Ninguém as avisou. Andam distraídas ou demasiado altivas. E não se detêm na ombreira da porta da mãe do Angélico. E julgam como se fossem deuses. Daqueles que habitam nas mentes injustas e arrogantes. Daqueles que também me visitam, e que eu vou expulsando com alguma lucidez. A caçula e eu sabemos o que é ouvir todos os dias dizerem que o doente está muito mal. Ouvir a explicação dos níveis de coma e sabermos que se baixa um valor, é irreversível. Por isso e porque sabemos o que doi, o que nos morre um pouco todos os dias ao mesmo tempo que se renasce o desejo do milagre, compreendemos a mãe do Angélico, esse menino bonito e talentoso, filho da minha terra, filho duma mulher angolana. O milagre...A caçula, eu e todos os que amamos o meu herói pedimo-lo. Aconteceu algo parecido com um milagre. A minha caçula é uma grande pessoa. A melhor que conheço. Jantar com ela é deixar-me de tangas, pôr os olhos nela e pensar que onde os nossos pais estiverem têm certamente o maior orgulho da filha que puseram no mundo onde nem sempre as estradas têm flores. Jantar com a minha caçula é rir, gargalhar dos esforços feitos para nos libertarmos das amarguras. Das verdadeiras amarguras com que a vida nos contempla. E seguir em frente...

1 comentário:

nuno medon disse...

olá! Eu também lamento o acidente que ele sofreu, e de outras pessoas anónimas que estão na mesma situação. Um primo meu, também foi vítima de um mecánico, que vinha a testar um carro. Bateu na carrinha de trabalho do meu primo, e passado 15 dias ou um mês, ele morreu. Lamento que tenhas sofrido um acidente, ou que alguém próximo de ti, tenha sofrido um acidente. beijos e um abraço. É bom estar na companhia dos filhos.