sábado, 18 de junho de 2011

fazer brasas, eis a questão

Queres sardinhas? Tens que as assar. E acender o lume. Foi mais ou menos assim, um convite para uma sardinhada, hoje ali ao pé do rio. A ver-se a ponte 25 de Abril, Almada e o Cristo Rei. E eu aceitei. Daquelas coisas que a gente nem pensa. Vai dizendo logo que sim. Sardinhas são como as cerejas, o sushi, a moamba. Aceita-se sem ouvir mais nada, depois é que se interioriza. E quando começamos a soletrar letra por letra é que percebemos que às vezes os convites são envenenados. Sem vergonha nenhuma, o digo aqui, eu nunca fiz brasas. Nunquinha na minha vida já longa eu ateei fogo no carvão. Sim, sei que se pôem acendalhas. Ou pinhas. E depois? Quantas caixas de fósforos é que eu vou gastar? Sim, porque não acredito que à primeira, segunda ou terceira se faça luz e chama apareça e o carvão comece a estalar, crepitando. Sei também que não se pode assar sardinhas debaixo da chama. Para isso pôe-se rodelas de batata que acalma os calores das brasas. Eu é que já estou em brasa perante a minha futura figurinha. É que não são muitos anos a virar sardinhas,a abanicá-las, mas são muitos anos a ver quem o fazia. É que eu tive uma caravana, o ano inteiro, num parque de campismo de peniche, durante mais de dez anos, muito mais, e por isso sei bem o que custa estar à espera que as sardinhas, os camarões, os pimentos, as febras e entrecostos, saiam. Mas desta é que eu não estava à espera. Achava que ia comer sardinhas grelhadas num grelhador eléctrico, bem sei que não é a mesma coisa, mas que eu preferia, preferia. Como é que eu me vou desenvencilhar disto? Não vou. Sei que não vou. E o cheiro a fumo com que vou ficar? E o tempo? E os nervos? O que vale é que vou ter ajudantes. Daquelas que ainda sabem menos que eu, claro. E que vão dar palpites como se fossem doutoradas no assunto. E vão rir-se às minhas custas. E mesmo que lhes saiba pela vida nunca o vão dizer para que a minha vaidade não extravase pela varanda fora. Enfim. Não adivinho nada de bom para este almoço. Mas porquê que eu não compro o diabo das sardinhas já assadas e as embrulho com laço e tudo e apareço à porta do " palácio " com o melhor dos meus sorrisos e sem me desmanchar grito - Surprise - ? Bem, depois vos direi, isto se sobreviver a tão difícil e sofrida tarefa. Sabem o que vos digo? Família! A quanto obrigas...Fazer mais como então? Deitar fora? Não dá. Já são tão poucos. E esta família, com fogareiro, sem fogareiro, sardinhas ou sem elas, é o melhor do mundo...e os sábados são os melhores dias da semana, pois então. Depois nunca é tarde para aprender e vou provar que burro velho pode tomar ensino, ou não me chame maria clara das dores!

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