segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

ai que nervos!

Finalmente em casa. 
Fecho a porta à chave. Largo o saco e a carteira.
Atiro com as botas, com o cachecol e o casaco. Descalça, vou à cozinha beber água.
Que securas! Horas e horas rodando, enganando-me, voltando atrás, perguntando. Aborrecendo-me com a menina da caixa central. 
Por causa da incompetência da outra. A da caixa normal. 
Cheia de fome. Empurrando o carrinho com três módulos, de um móvel. Pesando horrores. 
Encalorada. Farta. Derrotada. Irritada. Ai que nervos!
Não desisti mas esteve por uma unha negra. Estava já a mandar tudo para as urtigas quando vi um funcionário. 
- Pode ajudar-me? 
- Boa tarde. Diga lá.
- Preciso de chegar ao corredor nº 2, secção 11, a esta referência. 
- O que é que não encontra?
- Tudo. Se não me ajudar, desisto da compra. 
- Mas eu ajudo-a. Vou lá com a senhora.
E foi. E colocou os módulos no carrinho. E lá fui eu empurrando, batendo em tudo o que me aparecia à frente. Do tipo, robô. 
Se desmanchasse o personagem, parava, sentava-me em cima dos módulos, batia com os pés no chão violentamente, desatava aos gritos e a puxar os cabelos, histericamente.
Raios partam isto, maria clara, estou eu agora a pensar. 
Um pouco mais calma. Já capaz de recapitular a tarde que vivi. Sentada no meu sofá preferido. Respirando fundo. Enrolada na manta. Sozinha com Dona Pitanga. Que está empoleirada nas minhas pernas. 
Raios partam isto, digo eu tão baixinho que nem me escuto, porque se oiço a minha voz, sou acometida duma vergonha gigantesca. É que apregoo liberdade e vai-se a ver...
Dou a mão à palmatória. É que...
Nem sei como hei-de dizer isto. É difícil. Engolir o orgulho e dizer que um homem faz muita falta.
Os músculos do homem. 
A força do homem. 
A vaidade do homem. 
A frase preferida do homem. Quero, posso mando. 
Hoje eu deixava. Que quisesse. Que pudesse. Que mandasse.
Que usasse os músculos e a força e carregasse os módulos. A vaidade de o conseguir.
E mais, porque não é tudo. Que me fizesse poupar 68 euros.
Sim, porque tive de pagar 29 euros pelo transporte e 39 pela montagem do dito móvel.
Decididamente um homem faz falta. Ou quem se faça passar por ele. 
Porque eu, bem, eu não tenho nem músculos, nem força, nem vaidade. Tão pouco sou do tipo, quero, posso e mando. Não sou motorista. E também não faço biscates.
Sei lá eu o que é uma chave de fendas, uma porca ou um martelo de orelhas. Tenho ideia do que é um parafuso porque não sou doida. 
Finalmente estou em casa. Não desisti. Não gritei histericamente e também não rezei pais nossos tortos, nem chorei baba e ranho por me ter faltado um homem. Esta tarde.
E assim como assim, foi melhor assim. Para evitar uns quantos nervos, uns metros de esforço empurrando o maldito móvel e poupar 68 euros, a festa ficava-me demasiado cara. 
Há gostos que não valem os desgostos. 
E depois, está tudo resolvido. Móvel comprado. Transporte e montagem paga. Agora é só esperar que um ou mais homens me entrem casa dentro, montem o dito e mo deixem no lugar que eu escolher. Porque da minha porta para dentro, eu sou o homem da casa. E quero, posso e mando. Às vezes...

4 comentários:

persiana fechada disse...

Olá. melhorzinha agora? entendo esse problema, mas eu para montar esses móveis também sou muito mau. Mas existem mulheres que fazem tudo em casa. Tenho uma prima que é danada para a bricolage. Faz tudo em casa, até colocar madeira no chão, coloca. Um abraço e uma boa semana. beijos

Maria Clara disse...

Boa semana Nuno. Beijos

Agostinho disse...

A história valeu. Vale.
A trabalheira dispensava-se, não era?
Não por aí uma alma que dê uma mão? Até pode ser com unhas pintadas. Umas luvas como prevenção e conservação da integridade das mãos.
Também é necessária paciência para ler as instruções. Com coragem comece por coisas simples.

Maria Clara disse...

qual quê? habilidade não me assiste e não há por aqui ninguém que se ofereça para estes trabalhos. ;)