Diz que querem alterar a lei e a partir de agora, por apartamento, a pessoa ou família, apenas poderá ter dois cães ou quatro gatos.
Fazem-se entrevistas, também de rua, a gente que não tem animais, que vive com animais, que sofre com os animais dos outros, que embirra com eles, que os detesta, que detesta vizinhos e os seus animais, que trata deles, que trabalha em canis, hospitais de animais, veterinários, dirigentes de associações protectoras de animais, legisladores.
Faz-se a notícia. Espalha-se a mesma nos diversos órgãos de comunicação social.
Gera-se a polémica. Dividem-se opiniões.
Eu estou folgada. A Pitanga também. Se quiser ser irónica direi que somos duas gatas num apartamento, por isso há um certo equilíbrio nisto. Nada a declarar. Quero que vão ter um menino pela barriga das pernas, porque mesmo que me proibissem a Pitanga eu não obedeceria e compravam, comigo, uma verdadeira guerra felina, onde valeria tudo até tirar olhos.
Mas, vou deixar-me de conjecturas e muito a sério porque o assunto o é, darei a minha opinião sobre tudo isto, apenas porque tenho opinião e não por estar em situação de risco.
Comigo está tudo bem. À parte moscas e mosquitos que não é culpa minha, não os quero alimentar e abrigar sabendo todos nós de quem é a culpa, pois que devia passar o carro da tifa todas as semanas no meu kimbo e noutros do país e nem sabem o que isso é, até porque estão mais preocupados com outras coisas que parece não nos dizem respeito, mas dizem e muito, deviam tratar o lixo de forma mais eficaz, limpar as matas, fechar pocilgas e outros espaços onde habitam animais a céu aberto e sem qualquer higiene. À parte tudo isto que é mau porque nos leva à farmácia para a compra de pomadas e de repelentes, à loja para a compra de insecticidas, enfim, tenho apenas um animal de estimação, o que para o código do animal de companhia, está perfeito.
Porque me coloco sempre no lugar do outro e vá, até me consigo colocar no lugar do animal, isto não custa nada, apenas é preciso os ter e conhecê-los para ser possível vestir a pele deles, vou dizer umas quantas coisas que a meu ver preciso de as dizer pois que está aqui alguma coisa entalada que tem de sair porque odeio andar engasgada.
Começo então por dizer que antes de mais vou falar de pessoas e de condições de habitabilidade.
E claro vou ter de falar em minorias vivendo em casas minúsculas e sem quaisquer condições. Sabemos que este país recebe gente de vários continentes. E sabemos que vêm, no mais das vezes, trabalhar, no que os portugueses não querem e deixam para quem não se importa e precisa mais. E sabemos que os salários são miseráveis. Sabemos também que se juntam e alugam apartamentos chegando a viver aos 10, 12, 15 pessoas num espaço exíguo e apenas com uma casa de banho. Sabemos, eu sei, porque já fui vizinha ( sou ) de gente nestas circunstâncias, que quanto menos educados, letrados, menos adultos e fora da família, mais barulho fazem e a horas que não passa pela cabeça de ninguém que trabalha, que está integrado no meio e com as cinco oitavas no lugar. Mas, diariamente, em prédios normalíssimos, de apartamentos de família, acontecem estes comportamentos em casas onde vivem estas pessoas, estes grupos, nas condições já descritas.
Gente a mais. Subindo e descendo, consumindo luz do condomínio, deixando a porta de entrada do prédio aberta e sujeita ao acesso de estranhos com tudo o que isso pode acarretar.
Odores desagradáveis, fruto da falta de higiene. Escadas sujas de beatas, palitos, cascas de fruta.
Roupa pingando nas cordas, para a roupa dos vizinhos de baixo, por vezes manchando-a. Toque das nossas campainhas a horas que não lembram ao diabo e que nos sobressaltam, acordam, apenas para entrarem no prédio e não nas nossas casas.
Barulho; desde conversas em altos berros toda a noite e dia, a música, som de instrumentos musicais ultrapassando os decibéis suportáveis e por fim, discussões entre pessoas adultas, com palavras impróprias, violência física, choro de crianças às horas mias improváveis para adultos que precisam de descansar.
E porque não quero nem posso falar só de estrangeiros que vivem no país, há também as famílias numerosas, portuguesas, que, não me querendo repetir, digo apenas que vivem como aqueles que descrevi. Há grupos de estudantes universitários que a acrescentar aos comportamentos escusados e exagerados, têm o álcool e as drogas, que geram conflitos até entre eles. Há também famílias pequenas, pessoas que vivem sozinhas que têm comportamentos aberrantes. E há ainda gente que recebe pessoas em casa e as acoberta, completamente desconhecidas dos outros moradores, e que se comportam nas casas que as recebem de forma obscena e escandalosa para quem está e vive nos restantes apartamentos do prédio.
O que fazemos? Pouco mais que nada. Se a hora for avançada, suporta-se uma, duas vezes. À terceira hesita-se mas acaba-se telefonando para a polícia. Antes pensa-se nas represálias. Apanham-se depressões por insónias, inseguranças e sobressaltos que todos esses comportamentos, que não criamos e nos são alheios, provocam. E não fazemos mais nada.
Ganhamos ódios de estimação, massacramos quem connosco vive, quem vive perto ou longe de nós, vitimizamo-nos falando destas vivências de vizinhança, amaldiçoamos as criaturas, mas...mais nada.
E depois deste discurso ainda há quem ache que com animais é diferente? Porque são animais? Porque há quem não goste deles?
Porque uma pessoa é uma pessoa, um animal é só isso, um animal?
Quem atira com estas propostas de lei cá para fora, tenha juizinho.
É que não tem mais nada que fazer, está bom de ver. E com tanto desgoverno, o conselho, é, que se centre em pessoas. Pois que, pessoas bem tratadas, apoiadas e felizes, animais de companhia bem tratados, apoiados e felizes.
Deixem-se de números. Ou seja deixem-se de tretas. E acabem com esse circo.
O país de tanga, maltratando-se, sendo maltratado e eis que de repente a preocupação é o número e a forma como animais de estimação vivem com os seus guardadores.
Eh pá, tenham a santa paciência!
2 comentários:
Muito bem dito. Faça seguir esta prosa para a senhora das cristas e c.ª.
O ministério da tal senhora não tem mais nada para fazer? Então feche-se, sempre se poupa uma pipa de massa.
O mundo está perdido... na UE uma comissão reuniu-se durante três anos para estudar um problema impotantíssimo: a capacidade exagerada dos autoclimos de 6 litros para 5 litros.
Imagine a quantidade de caca que tiveram de fazer para chegar a esta conclusão?! Durante 3 anos!!!
:)
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