Olho, através da janela, o monte verde que o verão desmaiou para castanho, em frente a mim. E eu, de olho nele, todos os dias, vendo as mudanças. Adivinhando pincéis borrando a pintura. Esbatendo coloridos. Parece lhes escuto os gemidos.
Olho o céu branco, acinzentado, se é que se pode dizer, sem restos de dias solarengos e andorinhas esvoaçando.
Por aqui não há nuvens, quais carneirinhos e ovelhinhas passeando-se pelo universo. O firmamento é de cor branca de uma nuvem só. Sustendo as lágrimas, mas pronta a desabar. Inevitavelmente.
O sábado silencioso parece se calou à sua condição outonal. E concordou com ela.
Assim mesmo é que é. Faça-se justiça ao tempo.
Afinal estamos no outono ou não? Pode lá ser? Andar de chinelos, blusas de alças e calções e olhar as lojas repletas de Natal. Cheirando a família, rabanadas e perú recheado. Presentes.
Pode lá ser, castanhas aos pulinhos e o suor misturando-se com o fumo e o velho pregão?
Chocolate quente apelando ao espírito e o gelado seduzindo a saudade do mês que acabou.
O chapéu de chuva novinho em folha, resto de saldos de loja fechada, mais uma, e nem uma gota, caindo do céu.
E a camisola trazida pelo carteiro, para começar a nova estação? E a bota que a loja acertou, na cor, no preço, e até no salto.
E o edredon afagando o corpo? A meia, o chá de gengibre, o pão com chouriço, o leite com mel, o casaquinho cardado, a manta, o sofá, a televisão, os filmes de amor.
Então e as folhas caídas no chão? Árvores castradas, estrelas escondidas, noites mais longas, dias chovendo, frio fazendo? E a preguiça, o sono, a lágrima e a depressão? O vazio e a negação?
A criação? Poemas e versos de solidão...
Então e a culpa morrendo solteira?
É o Outono em ascensão. A ponte para a outra estação. Oposta ao verão.
Olho através da janela, o mundo lá fora. Assim mesmo é que é.
Cumpre o outono a sua missão.
2 comentários:
Um coração de poet(a)isa à espera de primavera.
:)
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