quarta-feira, 23 de outubro de 2013

dona Pitanga


Dona Pitanga é a minha companheira do dia-a-dia. 
Tem quatro anos, é siamesa e muito felina.
Mas à noite, quando chega a hora do descanso, tal como uma criança, que procura o colo da mãe, salta do sofá para os meus braços, aninha-se entre mim e o computador, enrola-se num novelo e dorme. Ou, simplesmente quer festas no pescoço, na cabeça. Quer ouvir-me a voz. Abana e ondula o rabo satisfeita, lambe-me os dedos e arrisca esticar a patinha almofadada de unhas recolhidas e retribuir com uma festa no meu rosto. A cada serão. A cada momento de sofá, de televisão ou computador.
Quando saio de casa vem comigo até à porta e fica a olhar-me como se tivesse pena de me ver sair. O que me parte o coração. Quando volto está lá. Miando do lado de dentro enquanto dou à chave. 
Se falo ao telefone ou no skype é possuída d' um ciúme profundo e tenta morder-me os pés, faz asneiras; chama a atenção de todas as formas e feitios. 
Não é agressiva com as pessoas que frequentam a casa, porém há escolhidos para os seus mimos. As minhas crias são as preferidas. 
Odeia andar de carro ou de comboio. Odeia a gateira porque a associará a viagens, a prisão, provavelmente. Quem a transporta, passa a ser um alvo. Há duas pessoas de quem foge assim que entram em casa. Esconde-se debaixo do sofá, das camas, em lugares pouco acessíveis, mesmo que essas pessoas não a queiram transportar. Foge também de mim se me vê mexer na gateira. 
Tem períodos de cio ( o caso agora ) dramáticos. Derruba tudo o que lhe apetece. Parte, estraga. Mia desenfreadamente. Roça-se por tudo quanto encontra pelo caminho. É uma tortura para ela e para mim, porque não é a minha Pitanga. Aquela que eu tenho comigo no resto dos dias. Transforma-se numa gata infeliz, assanhada, frustrada. De meter dó. 
Quando quero passar fora um fim de semana prolongado, uns dias de férias, é um sarilho. Porque, se por um lado me custa deixá-la, morro de saudades dela e de pena de a saber sozinha, por outro lado tenho dificuldade em arranjar quem cá venha a casa tratar dela. Já paguei a uma pessoa de fora. A quem entreguei a minha chave, em quem confiei. Já tive os meus filhos, o meu irmão a fazerem esse sacrifício para as suas vidas, para mim, esse favor. Mas é sempre factor determinante para as minhas escolhas de ausências de casa. 
Enfim, Dona Pitanga faz parte da minha vida. De uma forma muito activa. Muito importante. Imprescindível. 
É mais uma cria que tenho. Com uma diferença. Não cresce. É para sempre o bebé que precisa de mim. Que me faz muito bem. Que me mudou comportamentos. Que exigiu de mim rotinas agradáveis. Que me permitiu amar para além do amor...
Nunca imaginei sequer a possibilidade de colocar uma gata dentro de casa até que essa circunstância aconteceu. E ainda bem que aconteceu.
Não sei como teria sido a minha vida sem a sua presença, mas sei como passou a ser depois disso. E agradeço esta dádiva com muita gratidão. 
Ganhei a Pitanga depois duma perda, à época, muito dolorosa. Uma amiga pôs-me a Pitanga nas mãos, era ela bebezinha, mal comia. Para colmatar essa perda. E eu que inicialmente, quando me desenhava essa possibilidade, reagia mal, dizendo que não queria animais em casa, que aos fins de semana vinha para Lisboa e que não saberia tratar dum gato, quando recebi o telefonema dessa amiga dizendo, apareceu uma gatinha linda e meiguinha, no meu quintal, foi abandonada com certeza. Tenho-a aqui. Já tem dona. Vou levá-la aí. O primeiro sinal foi o do coração. Que disparou numa taquicardia incompreensível, completamente assustada, mas a recebê-la já. As palavras da chantagem resultaram. Abandonada, linda e meiguinha.
E assim, Dona Pitanga, entrou na minha vida. Até hoje. Para bem. Não tenho dúvidas nenhumas. Em troca, trato-a como uma princesa. Com todo o amor, dedicação e carinho. Como trato quem me ama e de mim precisa. Como trato quem amo. E eu amo esta gatinha linda e travessa, para lá do que não sei, como diz um herói, que faz parte da minha vida também.

4 comentários:

persiana fechada disse...

Olá. a menina tem aí uma companheira lindíssima. A minha cadela ama que lhe cocem o pescoço. espero que a Maria Clara se encontre bem. beijos e um abraço

Maria Clara disse...

Obrigada Nuno. Tudo de bom. Abraço.

anamar disse...

0lá Maria Clara

Pois, sei exactamente do que fala. Tenho duas "pestinhas" que dividem a vida comigo, aqui, neste apartamento que seria vazio sem eles !

Também eles alteraram a minha vida. Também eles me fizeram sentir grata por dividirem as existências comigo. Também eles, são, muitas e muitas vezes, os únicos interlocutores, os únicos companheiros ... os que me oferecem generosa e desinteressadamente todo o carinho que só eles sabem ...

Parabéns pelo que escreve. Revejo-me em muito do que diz.

Abraço

Anamar

Maria Clara disse...

Beijinhos Anamar. B.f.s. :)