segunda-feira, 2 de setembro de 2013

setembro e eu

foto tukayana.blogspot
Acorda Setembro verão, setembro domingo, paz e descanso na cidade. 
Neste lugar provinciano e airoso do Ribatejo que nem sempre amo, nem sempre odeio, nunca me é indiferente, quase sempre questiono. 
Quase sempre defendo e lhe reconheço beleza, tradição, harmonia. 
Quase nunca lhe tenho saudades, quase nunca lhe pertenço. 
Quase agora aqui cheguei e quase também a deixá-lo para trás. 
Acorda Setembro sem a cor do mar, sem ondas-abraços, sem a areia escaldante, sem mergulhos-piruetas, sem bolas de berlim, sem sereias atrevidas, ondular de kianda, olhar de gazela, nem tubarões... martelo. Ou outras aves raras.
Acorda Setembro, rio acima, rio abaixo, Tejo navegado, prometendo. E céu clareando-se nuvens água, cacimbo de outono a chegar na estação, partindo verão, desabando a chorar, penas passado, penas saudades, penas memórias.
Há neste primeiro dia de um mês que não aprendi a gostar, numa linha do destino, uma fatal memória, uma inevitável história que me faz lembrar e cantarolar o fado da desgraçadinha, num soluço consentido, lamento triste, partida e fim à vista que não quero lembrar.
Há uma vontade de dizer a Setembro calma, muita calma com o andor, que o santo pode tombar, mais que ao mês anterior, um, vai-te embora mês de Agosto. 
Há neste mudar de página uma questão repetida. Uma dúvida, uma interrogação que me magoa o coração. 
A cada fim de verão, a cada nova estação, a cada Setembro que surge me falta a protecção ao frio que me invade e me castiga. Arrepia e angustia.
Me falta o abraço, o colo e os beijos de mel de quem me estima. 
Me faltam os dias longos. As tardes quentes. As baladas. Os desafios. As cumplicidades. Os incentivos. Os sonhos.
Me falta a contemplação. O momento. Especial, banal, repetido, desejado.
Me embalo autistamente, neste primeiro dia de Setembro que acorda como ontem mas não é a mesma coisa. Na minha sensibilidade para percorrer novos caminhos, não é a mesma coisa..
Acordo eu diferente, também. Meio perdida, meio às escuras, meio adormecida...
Acorda Setembro e deixa-me despertar também!

4 comentários:

Agostinho disse...

Quis Nosso Senhor que Setembro
fosse marco na diferença. O mar
o sol que levamos há de secar
o sal nos olhos de Dezembro.

Um tempo acaba outro começa
o recato da noite traz sonhos
espuma da onda embalos risonhos
afagos mal a flor adormeça.

persiana fechada disse...

Olá. lindas palavras essas. tudo bem? Para mim Setembro é o fim dos incêndios ( espero que comecem a diminuir ).... só tenho a lamentar as mortes dos bombeiros e muitas vezes os culpados não são punidos.

Espero que tudo volte á normalidade daqui a algumas semanas e com muita chuva..

Maria Clara disse...

Gostei do poema. :) Obrigada

Maria Clara disse...

Olá Nuno.
Obrigada por não ter desistido de aqui vir. Tudo de bom. ::)