quarta-feira, 4 de setembro de 2013

um dia da minha vida

De repente, quase sem pensar, sem ter passado muito tempo, desde a decisão, vejo-me comprando um bilhete para passar o Tejo de barco, para o Barreiro. Afinal é logo ali. O longe se faz perto quando a gente quer.
Se querem que vos diga, apenas uma vez fui ao Barreiro. De automóvel. 
Se querem que vos diga, apenas atravessei o Tejo de barco uma única vez, para Cacilhas. 
Nada o faria prever que o faria assim, sem contar. Esqueci a máquina fotográfica, o caderno e a caneta que sempre me acompanham. Esqueci o almoço também.
Vi-me assim numa terra desconhecida. Num ambiente desfavorável. Num lugar de culto diferente. Numa família em perda. 
Percebi que as palavras de fé são idênticas à minha igreja. Estão no Velho Testamento.
Percebi que são uma família. E que a compaixão e solidariedade são palavras de ordem e não em vão.
E percebi ainda que há mais Claras na terra. Orei por essa irmã Clara que partiu para sempre.
Tão de repente como atravessei o Tejo, me vi no caminho de volta mas sem que antes não perdesse a hipótese de ensaiar uma desastrosa queda, que graças ao medo pavoroso de uma fractura qualquer, outra, lá consegui equilibrar-me o suficiente para apenas merecer um susto, dos antigos. Espero que não tenha sido uma ante-visão.
Quem diz que não há tempo para pensar não esteve nunca na minha situação. Enquanto voava do passeio para a estrada talvez dois metros, ali mesmo em frente ao cais, apenas tinha em mente, que ia partir o outro ombro, ou uma perna ou outro qualquer osso. Quando percebi que estava inteira e não tinha ido ao chão, ri mas a bom rir para a minha amiga que estupefacta, me olhava esbugalhada. 
Na verdade a nossa conversa acabou caindo nas quedas, nos pesos e na velhice.
Passou rápido quando nos vimos a comer um pastel de vento e a beber um suco de frutas, ali junto ao Chiado. Quando nos vimos paradas à porta do Santini olhando uma para a outra. Entrámos, mas com alguma sensatez e decência foram pedidas uma bola, dois sabores. Para cada uma. Eu, coco e meloa. 
E quando nos vimos saindo d'um metro porque nele entrámos sem pensar, andando em sentido contrário ao que queríamos tomar ( a nossa segunda casa, lololol ) caímos. Caímos na gargalhada. 
Afinal quem está de férias ou já não se preocupa com os limites do tempo, tem-no nas mãos. Na mente. E ele é o tempo todo do mundo.
Já não é a primeira vez que a ambas juntas, acontece esta proeza. A prosa é boa e absorvente. Uma porta de metro que se abre e a gente entra.
Acabámos a comer um prego com salada temperada com molho césar e a beber uma limonada com hortelã. Acabámos a conversar horas a fio a uma mesa da restauração. Acabámos a bocejar de cansaço e sono. E decidimos finalmente ir para casa.
Antes porém entrámos no hipermercado. Só para umas compritas rápidas. E eis senão quando, um sorriso, dois. Um casal antigo. 
Ele da Vila Alice. Ela do Liceu. Amigos.
E foram mais uns minutos, se calhar uma hora, que já era tardia.
E rimos. E recebemos aconselhamento para uma dieta sadia. De quem sabe. 
E cheguei ao Olival de boleia de amigos, morta de sono, mas viva graças a Deus.
Caí na cama que nem uma pedra. Mas agradecida pela vida que o dia me deu.
Parece pouco? Só quem vai acompanhar uma xará à última morada sabe e sente como é sagrado o tempo que se vive e por isso não se pode desperdiçar. 
A amizade presente e todos os momentos, são preciosos e a custo zero porque o investimento já foi feito há muito tempo e está penhorado nos nossos corações e na vontade de sermos felizes. 
Bem hajam Linda, Milú, Olívia e Tó. 

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