segunda-feira, 30 de setembro de 2013

no fio da navalha

O tempo, hoje, fazendo-se sentir a meu favor...
Me tocando. Não de leve. Não roçando, como a pena d 'um albatroz o faria. 
Ou dedos de amor platónico. Ou a timidez de recente amor...
O tempo, hoje, fazendo-se sentir a meu favor... 
Me tocando. Com a destreza do ser velho e sábio. Desapegado e primário. 
Como sacristão toca o sino da igreja. Ecoando. Acordando os distraídos. Chamando para a sua fé. 
Como pianista toca as teclas do seu piano, na força da inspiração, no talento da alma inquieta. Na loucura do solitário. Incompreendido.
Hoje, a vida me toca. Mais. E me grita que existe e eu faço parte dela. Sacudindo-me. Espicaçando-me. Emocionando-me. 
E eu me arrepio. 
E eu me sorrio. 
E me choro, por dentro. 
Deixo soltar-se, livremente, este pranto e entrego-o por conta dos momentos belos. 
Dos dias de sol e mar da minha necessidade de me suplantar, pessoa humana, que veio, não para ficar, mas para eternizar pequenos sopros de vida, pequenas emoções, pequenas correntes de ar fresco e puro. 
Fossilizar pequenas partículas de talento, pequenos poemas, grandes almas em construção. Mesmo que apenas para uma breve imagem de luz. 
Eu choro soltamente, rios transparentes, procurando caminho, sem filtros e sem rumo traçado. Porque a emoção chora juntamente 
com a minha vontade de viver explodindo caudais de alegria de ser desconhecida do mundo, íntima de mim. Amiga de mim. 
Esperança de mim...
Reconheço-me hoje ser vivente com todas as fraquezas e pecados. 
Perdões e salvações. 
Anónima. Pequena. Insignificante. Eu, irmã de mim.
E estando o tempo a meu favor, hoje, me declaro emocionada com os pequenos grandes nadas que o presente me oferece. 
Agradecida.
Mesmo se a vida me é apresentada hoje e sempre, no fio da navalha. 

Sem comentários: