O tempo, hoje, fazendo-se sentir a meu favor...
Me tocando. Não de leve. Não roçando, como a pena d 'um albatroz o faria.
Ou dedos de amor platónico. Ou a timidez de recente amor...
O tempo, hoje, fazendo-se sentir a meu favor...
Me tocando. Com a destreza do ser velho e sábio. Desapegado e primário.
Como sacristão toca o sino da igreja. Ecoando. Acordando os distraídos. Chamando para a sua fé.
Como pianista toca as teclas do seu piano, na força da inspiração, no talento da alma inquieta. Na loucura do solitário. Incompreendido.
Hoje, a vida me toca. Mais. E me grita que existe e eu faço parte dela. Sacudindo-me. Espicaçando-me. Emocionando-me.
E eu me arrepio.
E eu me sorrio.
E me choro, por dentro.
Deixo soltar-se, livremente, este pranto e entrego-o por conta dos momentos belos.
Dos dias de sol e mar da minha necessidade de me suplantar, pessoa humana, que veio, não para ficar, mas para eternizar pequenos sopros de vida, pequenas emoções, pequenas correntes de ar fresco e puro.
Fossilizar pequenas partículas de talento, pequenos poemas, grandes almas em construção. Mesmo que apenas para uma breve imagem de luz.
Eu choro soltamente, rios transparentes, procurando caminho, sem filtros e sem rumo traçado. Porque a emoção chora juntamente
com a minha vontade de viver explodindo caudais de alegria de ser desconhecida do mundo, íntima de mim. Amiga de mim.
Esperança de mim...
Reconheço-me hoje ser vivente com todas as fraquezas e pecados.
Perdões e salvações.
Anónima. Pequena. Insignificante. Eu, irmã de mim.
E estando o tempo a meu favor, hoje, me declaro emocionada com os pequenos grandes nadas que o presente me oferece.
Agradecida.
Mesmo se a vida me é apresentada hoje e sempre, no fio da navalha.
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