Não me toques... que me desafinas!
Não, não sou nenhuma viola. Tão pouco um piano.
Na verdade, apesar de gostar e dar música de vez em quando, não sou nenhum instrumento musical, como é óbvio. Nem sequer no aspecto, bem entendido.
Para ser uma viola, precisava ter cordas. Minhas, só da roupa. Ou vocais. E estas nem sempre estão no seu melhor. Há dias em que estão, lá está, desafinadas. Perco os graves e falo fininho que até parece que engoli hélio. O que para além de ridículo é inquietante.Diz que é dos nervos, vai-se lá saber se é verdade...Precisava também ter as curvas da viola. Não, decididamente não sou uma viola, uma guitarra ou qualquer outro instrumento que se assemelhe. Nem sequer sou um instrumento, embora haja quem tenha o atrevimento de achar que pode pôr o pé em ramo verde e tratar-me como uma coisa.
Por exemplo, um saco de pancada. Se bem que neste caso dou e levo, o que não serei então o verdadeiro saco...de pancada, para não dizer porrada como o povo diz. Lá estou eu a pôr na boca do povo palavras que eu própria digo, mas afinal, não deixo de ter razão pois eu sou povo, faço parte daquele imenso grupo que paga e não bufa, que se movimenta nos lugares comuns e que tem sempre culpa de tudo e de nada, por isso pode pagar e não bufar mas quando dá corda aos atacadores, solta a franga e não há quem o pare , daí chamar as coisas pelos nomes, preto no branco, pegar o touro pelos cornos e dizer saco de porrada em vez de pancada como eu muito educadamente (?) quero aqui deixar escrito porque a bem dizer tenho mil e tal amigos no facebook que não posso ofender, fora aqueles que vêm ler e que são amigos do amigo, embora também saiba que só me lêem aí uns trinta e três, que foi a conta que Deus fez, mas vamos que deixamos de ser uma rede social democrática e somos todos obrigados a ler o que todos os amigos escrevem? Era muito xunga eu insinuar que falta de democracia pode querer dizer porrada. Enfim, isto tinha pano para mangas mas são outros quinhentos que nada tem a ver com instrumentos como a viola. É mais aquela música de serrote.Na verdade, estou toda desafinada, tentando pôr-me a jeito de não ser tocada por ninguém. Nem sequer beliscada mas é preciso jogo de cintura...de vespa, e saber andar por entre os pingos da chuva.
Será que um bom chapéu resolve? O povo, o tal a que eu também pertenço, que paga e não bufa, ou bufa? Já vi faltar mais, dir-me-ia agora se me estivesse a ler que chapéus há muitos, sua palerma!
Sei que me faço de lorpa, e muitas vezes sou mesmo uma pateta, tentando sempre aquela vulgaridade giríssima de ser a pateta alegre mas está difícil. Como este país está decadente, os políticos para além de outras coisas feias, estão doentes e o povo está sonâmbulo não há muita margem de manobra para palhaçadas. E depois, também eu estou desasada e chata. E muito repetitiva. Perguntar-me-ão em quê. E eu respondo que a frase que mais uso neste momento é: Não me toques!
Será que estou a retroceder aos anos sessenta ? Quando era uma miúda e ouvia a uma sociedade completamente machista o que achava que era um piropo à mulher, mas no fundo no fundo não era senão um desdenhado insulto às mulheres bonitas que bambaleavam as ancas numa vaidade de parecer sempre pisarem a passerelle mesmo que se passeassem pelos musseques de Luanda: Ai, não me toques, que me desafinas.
Não. Não estou a voltar atrás. Estamos no novo século. Eu é que estou agora na fase do não me toques, por conta deste ombro doente que me desafina toda mesmo quando não me tocam.
2 comentários:
Serão mais de trinta e três.
Somando 33 + 1 (eu) = 34. Mas serão muitos mais.
Vim aqui parar há um ror de tempo por causa do Luandino Vieira que andava a pesquisar. Desde essa altura que venho aqui, às escondidas, sem pedir licença: D. Mª Clara, posso entrar?
Pois tenho lido coisas bonitas, sim senhora, continue.
Quem esteve lá ficou "apanhado"...
Votos de rápidas e completas melhoras.
Jagosto
Claro que pode entrar. Já entrou e nem doeu não foi?
Bem-vindo ao meu " kubico " como diria o povo em Luanda.
Obrigada.
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