terça-feira, 13 de março de 2012

trocadas as voltas à rotina

foto tukayana.blogspot
A rotina é inimiga de uma  mente aventureira. Eu que o diga quando estou com a minha amiga Manuela.
Que as saídas pedestres ao fim da tarde para uns quilómetros se transformaram em rotinas, transformaram, mas que estão longe de serem repetitivas e iguais, nem pensar.
Ontem descobrimos uma estrada nova, perto do estabelecimento prisional e voltamos atrás para  observarmos e percebermos. E percebemos que mais dia menos dia um condomínio se erguerá paredes meias com outro que já lá existe e ali perto da prisão, do cemitério e do ribeiro. Porque era já noite, os cães das poucas casas perdidas no meio do campo, ladravam,  e no lusco-fusco não víamos com nitidez toda a paisagem bonita que se desfruta ali, deixámos para hoje.
Equipei-me com o fato de treino e sapatilhas  e saí direita ao Bom Amor. Encontrei a minha amiga a regar a sua horta, perfeitamente pronta para me acompanhar. Observei as cerejeiras. Aquelas árvores lindas que dão frutos vermelhinhos, maravilhosos, que me permitem consolar de prazer de saborear o fruto que mais gosto. Eu não gosto só. Eu sou doida por cerejas e a espera que lhes faço tem o mesmo sabor que o da minha viagem a Luanda. Uma ansiedade boa antevendo já o prazer que tenho com o assunto. Mas tenho muito que penar, o que também já é coisa a que não sou alheia. Penar é comigo mesmo e o hábito faz o monge. Mas é que nem flor se vislumbra. Quanto mais fruto. Nem melros lembrando que elas ali estão prontinhas para serem saboreadas quer por mim quer por eles.
Se a volta dada pelo interior da cidade é de uma monotonia deprimente, a escolha hoje, pela variante, tem tudo menos pasmaceira. Deixámos a estrada principal e optamos por fazer o reconhecimento da outra margem da ribeira e passar por uma ponte antiga no meio do campo entre água, árvores, campos cultivados, algumas, poucas casas agrícolas, um único automóvel que se cruzou connosco e um bêbado que cambaleando se aprumou ao passar, cumprimentando educadamente com um solene boa noite que me espantou.
Acabamos por ir para o centro da cidade onde como sempre parece que emigraram em massa numa subserviência ao nosso primeiro. O Raul à porta da padaria, conversando, lembrou-me um tempo que não sei se quero lembrar.
Descer o viaduto é algo que me dá gozo fazer. Apetece-me sempre abrir os braços e voar. A visão que se tem do alto é imponente. O castelo iluminado ao fundo, a avenida junto ao rio. A torre da igreja de Santiago, com o sino cheio de luz. O hospital velho e o antigo quartel ao fundo. O espaço onde era a casa Nery, agora limpo como se aguardasse a feira de Março que parece mudou de sítio este ano. O aqueduto na quinta que espreitamos de cima. Hoje passa-se algo com um rebanho de ovelhas que se agitam junto à maior nespereira que algum dia vi.
Descer o viaduto é estar no fim da marcha, muitas vezes em passo de caracol. É parar. Encontrar alguém que sobe e que conhecemos e deitar conversa fora. É pensar num bom banho, roupa lavada. É pensar numa noite repousada. Amanhã será outra volta. Outro dia. 

1 comentário:

nuno medon disse...

passear faz bem á alma e é da maneira que apreciamos outras coisas. beijos