quinta-feira, 8 de março de 2012

d. pitanga

foto tukayana.blogspot
Olhei para ela. Enroladinha num novelo. Olhando p'ra mim.
Sabem quando estão a olhar p'ra nós e nós forçamo-nos a olhar? Pois. Acho que foi isso.
Cheguei do funeral. Numa semana fui a dois velórios e a dois funerais. E fiquei doente com isso. Dores de cabeça e inquieta. Voltei de Riachos no fim da tarde.  Encontei lá gente que não via há muitos anos. Todos mais velhos e gordos. Carecas. Cabelos brancos. Colegas reformados e até alguém do meu passado, que se faz de morto e que foi acompanhar o defunto numa atitude cobarde como é seu apanágio. Coisas de gente pequenina. 
Cheguei encalorada, cansada e desencorajada.
Olhei para ela. No sofá em frente de mim. Olhando-me. Sorri-lhe. Em silêncio. E ela levantou as orelhas, empertigou o dorso, ondulou-o, esticou o rabo e veio direita a mim. 
Estive a falar ao telefone e esquecera-me dela. Não foi para menos. Acenaram-me com um presente de aniversário, que é só para Julho, que não vou revelar, mas podem ter a certeza de que é de estalo. 
Olhei para ela e toquei-a de mansinho. Parada em frente de mim, olha-me. Morde-me os pés porque não gosta de meias pretas. Zango-me. Ameaço-a. Sobe para o sofá. Invade-me o colo. E instala-se. Pego na máquina e tiro-lhe uma fotografia. Esta. 
Dona Pitanga, a minha companheira mais devota e presente. Dizem que os animais sentem e pressentem.
Esta gosta de se fazer sentir. E quem pressente que se péla por me apanhar o colo, sou eu.
Afinal hoje quem precisa de colo? Julgava que era eu...  

1 comentário:

nuno medon disse...

Um abraço. força!!!! e as melhoras. Gata linda que só lhe dá mimos..