segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

uma carta que te escrevo na imaginação

Cheguei de dia no cubico. Atirei com os sapatos. Descalça, como se caminhasse nas areias quentes duma praia qualquer, tipo caboledo, olhei o computador. Apesar de ser fim de dia e do cansaço de segunda-feira, uma preguiça kuiosa me tomou conta e lhe olhei com prazer que nem quem olha um daqueles blocos de cartas que  na capa tem um avião voando nos ares do antigamente, quando escrevia cartas. De amor e d' outras. Ao lado uma esferográfica com o símbolo do Benfica na tampa. Me deram um dia e eu guardei. Guardo tudo. Também desgostos e desilusões. Traições. Carregadas de pó e mofo. Verdete. Como as moedas antigas. Para dar o troco. Ou não...
O avião da capa prestes a aterrar no bloco cheio de folhas de linhas e a caneta do benfica, meu clube até debaixo d'água, que culpa eu tenho que não sejas benfiquista? Esse senão não me assusta, isso tudo me animou e num atrevimento daqueles que se volto atrás para pensar, desisto, o melhor é seguir em frente que é lá que é o caminho mesmo que não me seja conhecido de tu cá tu lá,  teimei que ia te escrever uma carta. Faz tempo não escrevo cartas e também passou muito tempo da última que li. Me mandaste alguma carta um dia? Com selos dos correios? Daqueles que eu arrancava e metia nas folhas do livro de História do 6º ano. Para coleccionar...coleccionar o quê mesmo? A tua presença ausente? Ou nunca presente? Ou uma ténue imagem da presença um dia.Os animais selvagens das matas da banda? Sim porque havia selos que tinham a palanca, outras o leão, o leopardo, o elefante e até a gazela.
Às vezes penso, quando estou virada para aí, que sempre te esperei. Não vale a pena...tenho a certeza de que sempre te esperei. E vou ficar esperando. Me disseram sorrindo de desdem que vou mesmo esperar sentada mas não dizem que quem espera alcança? No desespero da espera há um sinal de mudança que eu agarro com unhas e dentes. Pena que não tenho dinheiro para unhas de gel. Era uma esperança mais prolongada e bonita. Para que quero eu mãos bonitas, unhas compridas, senão para te tocar e te acariciar a memória futura porque na passada eu acho nunca estive lá. Te conheço o rosto bonito. Olhos honestos. Sorriso. Te gosto quando sorris. Acho que devias sorrir assim para mim. E gosto da tua voz. Não disse outro dia que naquela vez de noite, de madrugada, nos sentámos na esplanada, e tu falaste voz de veludo? Então? Sonhei. Eu sei que sonhei, mas aposto na tua voz. E nas mãos. Olhar honesto, mãos bonitas e voz assim, que não sei explicar, isso tudo, me faz escrever uma carta. Ah e porque gosto de escrever cartas. Desconheço se vais ler. Também pagava para saber se queres ser o destinatário, mas no desconhecimento conhecido de ti, tenho uma esperança, se levantar a mão vais bater na minha palma estalando bonito como que a dizer: Boa! Bate aí.
Hoje me apeteceu escrever uma carta. Como nos velhos tempos que a gente desenhava a letra e fazia dos pontos nos is, bolinhas, modernices de adolescente que duram até hoje e o carteiro as largava na caixa do correio. Gosto de carteiros. E gostava de receber cartas na caixa do 162 e depois do 126, capicua, tinha de ser, na minha vida acontecem sem saber ler nem escrever. Tu me aconteceste assim numa coincidência que ainda hoje estou para descobrir porquê mesmo ainda. Acho que foi nesse dia que tive o desejo de te escrever uma carta. Aconteceu hoje. Vale mais tarde que nunca e nunca não existe entre nós.  
Como a missiva já está muito extensa vou ficar por aqui.
Te dou um kandandu, assim do tamanho do Mundo. E...ah! Acrescento que te gosto. Bué...
a de sempre
clara

3 comentários:

maria disse...

Missiva beeenita!

nuno medon disse...

olá. adorei estas suas palavras. aposto que as pessoas que recebem cartas suas ou que receberam no passado, aposto que as terminaram de ler com um lindo sorriso. é uma escritora e pêras :) . beijos para si

Maria Clara disse...

Obrigada. :)