Deito o olhar no mundo. Te vejo ao longe. Se me disseres que não te conheço, vou bravar. Te conheço de ginjeira, gajajeira, pitangueira e todas as outras árvores da nguimbi, até imbondeiro. Chupei múcua quando era candengue. A boca ficava áspera!
Te sei de cor. Tenho queda para a adivinhação e te sonhei. Um sonho que nunca que esqueço. Colorido que eu sei lá.
Voz bonita! Eta voz doce, veludo. Cada palavra saindo parece que estou a saborear caju, sentada no muro do quintal.
Te sei de cor. Tenho queda para a adivinhação e te sonhei. Um sonho que nunca que esqueço. Colorido que eu sei lá.
Voz bonita! Eta voz doce, veludo. Cada palavra saindo parece que estou a saborear caju, sentada no muro do quintal.
Li num bilhete que ficou preso num iman da minha memória, que ia te encontrar. Não. No papel preso nas minhas lembranças dizia, que eu li, que ias-me procurar.
Me disseram assim: Fica quieta, no teu canto. Um dia vais saber que lhe conheces de cor. Vais perceber-lhe os gestos. Vais até reconhecer o assobio. A passada...
Canto baixinho um som, do tempo dos tambarinos, que apanhava quando subia na árvore encostada no bairro indígena. Um semba chorado, suspirado, suspiros arrancados de dentro, enquanto bato o pé devagarinho ritmando a batida que sobe e desce no meu peito.
Me apetece dançar. Sou do tempo da menina dança ou já tem par? Tenho a voz a tremer e o coração a saltar. Me atrapalho toda, me tropeço, me envergonho, me quero esconder, mas o que eu quero mesmo é te ver me sorrires, então.
Me disseram, ou sou eu a inventar, que me vais convidar para dançar?!
Deito o olhar no mundo. Bato as pestanas que já foram longas e bonitas. O mundo também já teve outra cor, outro cheiro e outros amores. Menos dores. Lá estás tu. Te reconheço da minha lembrança. Do tempo em que acreditava que os meninos vinham de França.
Ligo o gira-discos. Não escolho mais. Não espero mais. A música se mistura. Me provoca. Me encontra. Recomeço o canto. Num sotaque conhecido, as palavras carregando erres simpáticos e ingénuos como eu já fui nesses tempos de subir e comer a fruta na árvore, ensaio uma vez mais.
Um dia qualquer saberei, saberás, a música de cor e então dançaremos ao som da canção que esteve guardada na minha ilusão.
Te vejo ao longe e espero quieta no meu canto. Quieta, quieta não direi, mas me fico, assim mesmo, ficando...
1 comentário:
Que encanto de prosa. Gostei muito.
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