terça-feira, 8 de novembro de 2011

fim de tarde


Saí do hipermercado. Chovia. Bastante. Deitando por terra o desejo de descer o viaduto a pé, direita a casa. Atravessei o parque de estacionamento, para a paragem do TUT. Apenas uma mulher aguardava.
Os passageiros dos transportes urbanos costumam ser velhos, a cheirarem a mofo e a nafetalina, mulheres viúvas e pouco mais. Cumprimentei a rapariga que esperava e ocupava o banco com os seus sacos do Modelo. Apressou-se a retirar os sacos.
- Quer sentar-se?
- Não, não, disse poisando os meus. Deixe ficar. Vou esperar em pé. E sorri-lhe.
Depois perguntei-lhe se esperava o TUT e se o autocarro parava perto do Ciclo Preparatório. Dali a instantes estávamos a conversar.
Quer dizer, ela falava e eu ouvia. E assim fiquei a saber que fôra minha vizinha, do último bloco, que o marido fôra a Angola, que o sogro vive em Luanda, que torres novas é demasiado pequena para ela, que não tem filhos, por opção, que está desempregada, que não tem carta de condução, que tem 38 anos, que vive na Silvã, que tem um familiar que foi para Angola e arranjou uma catorzinha mas que vem a portugal e finge que tem o casamento perfeito, que veio de Lisboa pequena e que não se identifica com esta terra. Que acha estas pessoas invejosas. Tudo isto sem que eu perguntasse coisa alguma.
Foi muita informação para quem como eu, hoje, tem uma dôr de cabeça do caraças, dores no corpo e na garganta e o que mais queria ali enquanto esperava o autocarro, era chegar a casa para se pôr a jeito de a qualquer momento mergulhar no vale dos lençóis.
Acabei por achar simpática a abordagem da minha parceira de viagem. Afinal, há pessoas com vidas curiosas. Há pessoas que pensam como eu apesar de aqui viverem. Isso fez-me sentir menos culpada.
Não soube o nome da mulher de 38 anos, bonita, morena de longos cabelos pretos, educada, delicada, ar sereno e simpático que me ajudou a passar o tempo enquanto esperava o autocarro e que permitiu que nem me apercebesse da viagem.
Há fins de tarde assim, apesar de chuvosos e frios, melancólicos e invernosos, se encontramos alguém que como nós, vive sozinha e se faz transportar nos transportes públicos e gosta ou precisa de falar. A quem damos alguma atenção. Sem qualquer intenção...

6 comentários:

Anónimo disse...

Bem que grande final de dia: cheio de informação de uma desconhecida :))) ihih!1 espero que esteja melhor. bjinhos e uma boa noite. Sofia

nuno medon disse...

olá. eu já vi que é uma grande comunicadora, apesar de ter falado pouco com a sua companheira de viagem. tinha jeito para jornalista ou psicóloga...não sei como não pensou em seguir estas áreas. as melhoras das dores de cabeça e das dores no corpo. beijos e uma boa noite. durma bem

Maria Clara disse...

Olá Sofia. Tudo de bom.
Beijos

Maria Clara disse...

Olá Nuno
Não segui essas áreas porque a vida não me permitiu.
Poré, acertou em cheio. Eu queria ser médica. Escolhi a área de ciências e as disciplinas próprias. Psicologia tentava-me mas psiquiatria era o que eu gostava mesmo.
Tbm achava e acho fascinante o jornalismo. Não fui mas a minha cria mais velha é e isso deixa-me muito feliz.
Tudo de bom para si. Beijos

nuno medon disse...

olá.. está a tempo de ir tirar um curso de Psicologia, isto porque gosta de apreciar os outros, de os ouvir atentamente, mesmo nos dias em que tem sono, no autocarro...uma amiga da minha madrinha, depois dos 50 anos, tirou um curso de Ass. Social em Coimbra. Ia e vinha para o Marco de Canaveses, várias vezes por semana. beijos e um abraço. tentei comentar em cima, mas nem sei se consegui. Parabéns a si e á sua filha..

Anónimo disse...

hummmmm, invejosa mazé, keres imitar a kanuca.....