Aos domingos de manhã, se estou no Olival, vou ao Pingo Doce. É só atravessar a ponte para Odivelas e Póvoa, andar um pouco, e num ápice já estou a gastar dinheiro.
Quando se tem alguém que não come carne tem que se pensar bem no que vai ser o almoço de domingo. Sim, porque este é sempre melhorado. Aprendi com o sô Santos. O domingo é especial!
Hoje é um luxo não comer carne, porque esta é mais barata que o peixe. E eu ando destreinada de cozinhar diariamente, ao almoço e ao jantar. Apenas no último mês me dei a esse trabalho e não foi uma maçada, mas antes uma alegria, pois cozinhar para a minha cria é sempre um grande prazer sobretudo porque oiço invariavelmente, depois da primeira garfada: Está óptimo.
E eu acredito. E fico grata porque o esforço não é em vão.
E depois ainda há a outra cria que me diz assim do pé para a mão: o teu bacalhau com natas...e no dia seguinte? beeem! foi o melhor bacalhau com natas que já comi ( falando do bacalhau feito no dia 10 ).
Mas voltando à minha ida às compras, cheguei à caixa do supermercado. Olhei a menina que me ia fazer a conta. A mesma da semana passada. Uma morena brasileira. Simpática e rápida. Daquelas que apressa o cliente a tirar as compras do cesto, chama-o para que não se distraia e seja atendido mais depressa e por aí adiante...
Fui colocando as minhas compras no tapete. Tintureira, pimentos verde e vermelho, coca-cola zero, batata doce, leite, maçãs, lulas, bolo-rei...
Tinha estado indecisa entre peixe no forno e caldeirada de peixe. O último venceu.
Ao poisar os pimentos assaltou-me uma dúvida. Será que era preciso pesá-los? E o peixe? E as lulas? E a batata doce?
Olhei a funcionária e não pude deixar de pensar que já era um pouco demais. É que domingo passado fui aos camarões para fazer feijoada de marisco e em plena caixa percebi que não os pesara. A menina simpaticamente foi dizendo que, ou esperava por uma colega e demoraria muito mais ou ia eu mesma dentro do supermercado pesá-los, e eu fui, enquanto ela foi fazendo a conta. Tudo numa boa que estamos cá é para confiar, nuns e noutros. Quando cheguei de novo, parecia eu que trazia um foguete num sítio que eu cá sei, perseguida que fui pelo segurança, pois que entrei na loja pelo lado de fora, de mercadoria na mão, e a criatura que está apenas programada para fazer parar quem sai por esse lado sem pagar, ao ver-me entrar, desprogramou-se, baralhou-se e aos berros, fez-me uma abordagem a dar para o escandaloso, dado o motivo. Expliquei-lhe direitinho que estava a entrar para pesar a mercadoria e não a sair com ela sem pagar. Entendidos ou quê? A que ele me respondeu: Mas não pode entrar assim.- Assim como? Com camarão na mão? Ó homem, o seu problema é se eu não o paguei? Ainda não, e...? E ele deu meia volta todo baralhadinho das idéias, apesar de novo e com ar de bom rapaz a dar um pouco para o jerico, mas pronto, cada um é p'ró que nasce, e largou-me da mão, porque lá p'ra ele deve ter pensado que ou morria ou ficava doido. Bem sei que não devia ter entrado pela entrada em causa mas...
Como estava a dizer assaltou-me a dúvida sobre pesagens, quando a vi, a ela, funcionária da caixa que fora tão simpática e excepcionalmente boa funcionária que ao chegar com o camarão pesado já tinha as minhas compras todas arrumadinhas no carrinho das compras que é o meu e num saco que comprara para os excessos.
- Boa tarde. Vai precisar de um saco?
- Um apenas.
- Para os frescos não é?
- Sim.
Olhou-me bem e depois disse:
- Ah, é a senhora da semana passada. Da pesagem. Estou a reconhecê-la.
- Pois sou. E ainda agora quando a vi pensei nos pimentos que não pesei. Como é que se lembra de mim?
E foi aí que o meu coração se derreteu.
- Como ia esquecer a senhora? Tão simpática...até foi lá dentro pesar e não deixou eu chamar uma menina da loja...lembro sim. E acompanhou este grande piropo de um sorriso de orelha a orelha que me enterneceu.
Afinal construí (?) a imagem de antipática a vida toda, pelo menos as pessoas ( quais pessoas não é?) era assim que me faziam crer que era, e de repente um menina balconista de um supermercado desconstroi tudo...
Desejou-me bom domingo com um sorriso maravilhoso que iluminou a minha manhã e me provocou gratidão para o resto do dia.
Afinal, nem sempre somos antipáticos, presunçosos, arrogantes e altivos.
Há quem nos olhe com os olhos tolerantes e nos ache simpáticos e isso muda algo em nós.
Como que um solzinho neste domingo trovejante e chuvoso de um Outono que tem pernas para andar. E que eu tenho de atravessar com alguma, muita coragem e sabedoria.
Quando se tem alguém que não come carne tem que se pensar bem no que vai ser o almoço de domingo. Sim, porque este é sempre melhorado. Aprendi com o sô Santos. O domingo é especial!
Hoje é um luxo não comer carne, porque esta é mais barata que o peixe. E eu ando destreinada de cozinhar diariamente, ao almoço e ao jantar. Apenas no último mês me dei a esse trabalho e não foi uma maçada, mas antes uma alegria, pois cozinhar para a minha cria é sempre um grande prazer sobretudo porque oiço invariavelmente, depois da primeira garfada: Está óptimo.
E eu acredito. E fico grata porque o esforço não é em vão.
E depois ainda há a outra cria que me diz assim do pé para a mão: o teu bacalhau com natas...e no dia seguinte? beeem! foi o melhor bacalhau com natas que já comi ( falando do bacalhau feito no dia 10 ).
Mas voltando à minha ida às compras, cheguei à caixa do supermercado. Olhei a menina que me ia fazer a conta. A mesma da semana passada. Uma morena brasileira. Simpática e rápida. Daquelas que apressa o cliente a tirar as compras do cesto, chama-o para que não se distraia e seja atendido mais depressa e por aí adiante...
Fui colocando as minhas compras no tapete. Tintureira, pimentos verde e vermelho, coca-cola zero, batata doce, leite, maçãs, lulas, bolo-rei...
Tinha estado indecisa entre peixe no forno e caldeirada de peixe. O último venceu.
Ao poisar os pimentos assaltou-me uma dúvida. Será que era preciso pesá-los? E o peixe? E as lulas? E a batata doce?
Olhei a funcionária e não pude deixar de pensar que já era um pouco demais. É que domingo passado fui aos camarões para fazer feijoada de marisco e em plena caixa percebi que não os pesara. A menina simpaticamente foi dizendo que, ou esperava por uma colega e demoraria muito mais ou ia eu mesma dentro do supermercado pesá-los, e eu fui, enquanto ela foi fazendo a conta. Tudo numa boa que estamos cá é para confiar, nuns e noutros. Quando cheguei de novo, parecia eu que trazia um foguete num sítio que eu cá sei, perseguida que fui pelo segurança, pois que entrei na loja pelo lado de fora, de mercadoria na mão, e a criatura que está apenas programada para fazer parar quem sai por esse lado sem pagar, ao ver-me entrar, desprogramou-se, baralhou-se e aos berros, fez-me uma abordagem a dar para o escandaloso, dado o motivo. Expliquei-lhe direitinho que estava a entrar para pesar a mercadoria e não a sair com ela sem pagar. Entendidos ou quê? A que ele me respondeu: Mas não pode entrar assim.- Assim como? Com camarão na mão? Ó homem, o seu problema é se eu não o paguei? Ainda não, e...? E ele deu meia volta todo baralhadinho das idéias, apesar de novo e com ar de bom rapaz a dar um pouco para o jerico, mas pronto, cada um é p'ró que nasce, e largou-me da mão, porque lá p'ra ele deve ter pensado que ou morria ou ficava doido. Bem sei que não devia ter entrado pela entrada em causa mas...
Como estava a dizer assaltou-me a dúvida sobre pesagens, quando a vi, a ela, funcionária da caixa que fora tão simpática e excepcionalmente boa funcionária que ao chegar com o camarão pesado já tinha as minhas compras todas arrumadinhas no carrinho das compras que é o meu e num saco que comprara para os excessos.
- Boa tarde. Vai precisar de um saco?
- Um apenas.
- Para os frescos não é?
- Sim.
Olhou-me bem e depois disse:
- Ah, é a senhora da semana passada. Da pesagem. Estou a reconhecê-la.
- Pois sou. E ainda agora quando a vi pensei nos pimentos que não pesei. Como é que se lembra de mim?
E foi aí que o meu coração se derreteu.
- Como ia esquecer a senhora? Tão simpática...até foi lá dentro pesar e não deixou eu chamar uma menina da loja...lembro sim. E acompanhou este grande piropo de um sorriso de orelha a orelha que me enterneceu.
Afinal construí (?) a imagem de antipática a vida toda, pelo menos as pessoas ( quais pessoas não é?) era assim que me faziam crer que era, e de repente um menina balconista de um supermercado desconstroi tudo...
Desejou-me bom domingo com um sorriso maravilhoso que iluminou a minha manhã e me provocou gratidão para o resto do dia.
Afinal, nem sempre somos antipáticos, presunçosos, arrogantes e altivos.
Há quem nos olhe com os olhos tolerantes e nos ache simpáticos e isso muda algo em nós.
Como que um solzinho neste domingo trovejante e chuvoso de um Outono que tem pernas para andar. E que eu tenho de atravessar com alguma, muita coragem e sabedoria.
1 comentário:
Mas quem disse que és antipática?
Claro que és simpática, assim numa escala de 1 a 10, bom, não vou dizer-te quantos senão envaideces-te.
Mudando de assunto, esta tua caldeirada está com um bom aspecto, que até já marchava, mas era já, sem espinhas.
Sei-te hoje um pouco só e triste.
Logo passa.
Beijitos Clarita.
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