sábado, 5 de novembro de 2011

divagações XI


O que é seguir a felicidade?

Sem pressa, sem sono e sem companhia, olho o relógio e não me surpreendo com os ponteiros. São quatro horas. Da manhã.
Enrolada numa manta, no sofá cinzento da sala, sob a luz indirecta do candeeiro da mesinha junto à estante dos livros lidos e por ler, fazendo companhia a dois rissóis de camarão e a uma lata de coca-cola semi-bebida, olho a televisão que me surpreende com um filme indiano que dado o adiantado da hora me pareceu muito comedido.
Por volta das duas, tombei no sofá num sono que parecia o sono de grávida. O de Novembros distantes. Aqueles em que perseguia a felicidade. Hoje nada pari, mas acordei passado uma hora. Só. Desperta. Mas sem insónia nem pressa de coisa alguma.
Cansada da chuva, da semana e das pessoas, deixei a casa de todos os dias, o trabalho e aquele ser pequenino e felino que depende de mim e me deixa angustiada e culpada de o deixar para trás. Rumando a caminho de qualquer coisa, cheguei ao destino num destino incerto mas provável.
Numa noite como esta, há escolhas e caminhos a seguir, fáceis e confortáveis. Um telefonema, dois ou três, um filme, uma refeição acompanhada, uma conversa, rolar na cidade, ou simplesmente seguir para casa de taxi, de metro ou no 36 que pára na rua de Angola...
Ironia das ironias. Se chego tarde, sair na rua de Angola é a segurança que me garante sentir-me em casa.
O que é seguir a felicidade?
Não sei responder. Talvez pelo adiantado da hora ou pelas horas de atraso que devo ao meu repouso. Mas sei o que é seguir com o dia, com a rotina e também quebrá-la. Seguir com a intuição e com a necessidade. Com o instinto de sobrevivência. E mudar de planos. E aceitar companhia e transporte para Lisboa numa sexta-feira à noite.
Olho estas paredes, quatro, como no lugar comum, e tenho dificuldade em imaginar-me fora delas para sempre. Conquistei-as. Conhecem-me. Protegem-me. Olho de novo a televisão e o filme indiano acabou mas antes do fim fez soltar aquela lágrima que andou presa toda a semana e só agora escapou livre.
Há semanas, que dou comigo a pensar que um dia deixo de pensar... e cresce um medo que me provoca calafrios. Há semanas contraditórias. Que me provocam dúvidas, questões, angústias e depressão.
Se deixar de pensar o que faço?
Será que vou poder saber finalmente o que é seguir a felicidade?
Ando cansada e dorida. A minha hérnia na cervical a dizer-me que afinal um dia de cada vez pode ser recorrente mas o futuro está aí e é desanimador. Bem sei o que é não conseguir mexer o meu braço direito que por acaso é o esquerdo. E dormir sentada dois meses. Noite após noite. Só não tenho par como dessa vez, a única de crise aguda, a substituir uma cervical doente por uma cervical em forma e assim repetir a dose, que no fundo no fundo, não tenho de que me queixar pois acabou tendo como consequência a liberdade de serem 4,37 e estar enrolada numa manta a pensar na vida, sem correntes, obrigações e outras imposições e com pânico de deixar de pensar e ao mesmo tempo acomodada à idéia de que se sou capaz de seguir a felicidade, ninguém me avisou, e perdi ou não soube agarrar essa possibilidade, presa que estava a outras variantes de uma suposta felicidade. E agora talvez vá tarde.
Não sou uma grande leitora dos livros escritos, oferecidos, comprados e arrumados na prateleira; leio alguma coisa. Não sou muito observadora; vou vendo comportamentos, vidas vividas e por viver, rostos, sorrisos, olhares e caretas, máscaras. Não tenho muitas vivências, apenas aquelas a que me obrigo, me surgem, procuro, sonho e realizo...mas sei que o meio mundo que anda a querer tramar o outro meio, tem um fim. Obter vantagem. Que afinal não é senão querer seguir a felicidade. Ou a intenção muitas vezes mal intencionada, mas a intenção...
Ter vantagem não sei muito bem o que isso é, pois quase sempre faço parte do meio mundo tramado. Seguir a felicidade também não sei se sei.
Abrir caminho, saltar obstáculos, acreditar...será?
Às 4,53 da manhã tenho algumas dúvidas se saberei, se quererei, se merecerei, se valerá a pena, se há felicidade.
Como também não tenho jeito para kalimero, até porque não vislumbro ombro amigo por perto, que a esta horas ou estão nos copos ou a dormir o sono dos justos, ou rebolando na cama com insónia ou de companhia, a dúvida persiste e o sono já me assiste. Seguir a felicidade...
Ir dormir pode ser um caminho.

3 comentários:

nuno medon disse...

olá. esse filme era na tvi ? de noite, vi umas cenas de um filme esquisito, que não vi, mas sei que os actores eram morenos. Quanto á sua cervical: há tratamento para isso? não era melhor ser operada e ficar bem dessa maleita, do que ter dores? pergunto porque uma amiga foi operada a uma hérnia nas costas. viver com dor é desesperante. as melhoras para si e um abraço muito grande. beijos e tente dormir bem. cumprimentos á Pitanga

Anónimo disse...

deita-te cedo e deixa de estar agarrada ao computador k a cervical agradece

Maria Clara disse...

Pópilas kamba! Só o chá...até que me tenho deitado bem mais cedo do que é costume. Por estas e por outras.Bjs.