domingo, 21 de agosto de 2011


A propósito das celebrações religiosas, com o Papa, hoje, em Espanha, estou espantadíssima. E porquê? Porque tenho estado a seguir pela televisão a missa e como é óbvio chegam-me imagens de fiéis assistindo in loco a esta celebração. E o que é que vejo? Imensos jovens de calções, t-shirts de alçinhas e até cai-cais. Mantinha comigo uma imagem de há muitos anos atrás, talvez uns 30, de Fátima, que me revoltou e tornou um pouco céptica a propósito dos propósitos daquele espaço de fé, por parte das autoridades religiosas que impunham leis absurdas para os fiéis que ali buscavam um pouco de paz.
Um episódio, aconteceu comigo, e outro, assisti a ele, passados que foram uns 10 anos, do primeiro.
Torres Novas fica a vinte e tal quilómetros de Fátima. Era muito vulgar ao domingo ir beber café àquela localidade, então uma aldeia. Eu gostava de ir à capelinha pôr uma vela e depois subir a escadaria para a basílica. Gostava daquela tranquilidade que encontrava naquele espaço bonito e de paz.
Um dia, de verão, era eu menina e moça, talvez 25 anos, acompanhada do namorado, no tempo em que os namorados iam a Fátima com as namoradas, entrei no recinto aberto onde cabe um milhão de gente de fé, nos dias especiais de 13 de maio ou 13 de outubro e fui abordada por uma criatura que me impediu de prosseguir a caminhada. Então o que era? Dirigiu-se-me para me indicar um compartimento onde me emprestariam um xaile, lenço, ou echarpe, para que tapasse as costas e os ombros. Estarreci. E perguntei porquê. Percebendo claramente o que estava a acontecer mas sem querer acreditar.
É que eu vestia uma t-shirt preta às risquinhas brancas que atava no pescoço e deixava as omoplatas e parte das costas ao léu.
Foi-me dito sem muitos floreados que era proibido entrar ali vestida daquele jeito. E ou me tapava ou não prosseguia. Achei repressivo e imoral o comportamento dos homens da igreja. Como imoral acho muita coisa que não vem para aqui chamada porque são contas de outros rosários, rezadas muito para além deste exemplo.
Claro está que com 25 anos, uma gaja que se vê nesta situação não aceita as regras do jogo e dá meia volta volver que para rezar não é preciso estar vestida até às orelhas. Hoje, seria bem diferente, ó se seria. Mas eu queria ver quem me arrancava de um espaço público ou me aconselhava um lenço saído sei lá eu bem de onde, ( que nojo, que promíscuo um lenço que conhecia mais ombros que eu conhecia pessoas )!
Uns anos mais tarde, já os meus filhos corriam alegremente no recinto da basílica, vi uma peregrina acompanhada de um cão, com trela, e devidamente açaimado, ser convidada a sair por ser proibido animais no recinto. A rapariga explicou-se dizendo que fizera o percurso do Cartaxo até ali, a pé, cumprindo uma promessa e fizera-se acompanhar do cão, treinado para a defender e por fim, ali estava para agradecer e rezar, cumprida que estava a promessa. Que não tinha onde deixar o animal. A criatura não se comoveu com a história que parecia ter tudo para ser verdadeira e a peregrina teve de se retirar.
Sempre que me falavam dos procedimentos da igreja em Fátima, eu não me poupava em considerações e repeti estas duas histórias vezes sem conta. Como tudo, passa, e também passou e eu já nem vou a Fátima! Estou ali ao dobrar da esquina e nem sequer conheço a basílica nova por dentro, que acho um verdadeiro mamarracho, colocado ali a contrariar a arquitectura bonita da basílica antiga e o seu recinto aberto e arejado muito diferente de Lurdes, onde fui há uns anos atrás e achei feio, tétrico e doentio. Se calhar por ter sido em dia de frio e chuva, mas comparada com Fátima, em comum só os nomes de mulher.
Mas hoje, porque desta festa da igreja com o chefe da dita se trata, muito me admiro e regozijo que as coisas estejam a mudar. Ou serão os espanhóis?

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