quarta-feira, 3 de agosto de 2011

não gosto de silêncio

Porque gosto eu de terras grandes? Avenidas barulhentas e muito trânsito? Pessoas passando? Carros businando? Acho que é porque parece não vai haver nunca um fim, no mundo.
Neste fim de mundo louco e desgovernado que é uma cidade que perdeu o silêncio e o tino.
Quem gosta do silêncio? Eu não. Não gosto de ouvir o silêncio batucando na minha cabeça, acelerando o meu coração numa taquicardia que aprendi a controlar mas que se o silêncio é de ouro até o metal parece gritar nos meus ouvidos que estou morta e o coração pula fora.
Na vida, vivi sempre em frente à vida. De frente para escolas. De frente para hotéis. De frente para igrejas. Para padarias. Bombas de gasolina. De frente para campos de jogos. Janelas abertas. Luzes acesas. De frente para avenidas. Ruas principais. Onde passam bombeiros, bêbados, malucos, polícias perseguindo ladrões, guarda-noturnos, carros de lixo, carros do fumo. Carros.
Quem gosta de uma casa quieta? Como se tivesse partido e não deixasse endereço?
Dou à chave. Porta-chaves barulhento. A Pitanga aparece apressada, pronta para afiar as unhas no tapete da entrada. Mia. Mando-a para dentro. Poiso a carteira na mesa da cozinha. Falo com ela. Porque comeu tudo. Porque não gostou da comida. Porque deitou uma caixa ao chão. Porque enrolou os tapetes. Puxo os estores. Abro a torneira da água fria. Corre a água. Ligo a máquina. Começa a lavar. Espirro e tusso de seguida. Vou à casa de banho, puxo o autocolismo. Cai a escova do cabelo. Tomo banho. Ligo o secador. Seco a cabeça. Toca o telefone. Dou uma gargalhada. Batem à porta. A vizinha ralha com o filho mais novo. No 2º direito tocam guitarra eléctrica. Alguém estende roupa. Corre a corda. Entro na sala. Ligo a ventoinha. E a televisão. Chamo a Pitanga. Ligo o skipe. Falo para longe.
Não gostaria de viver no silêncio.
E não sei viver numa terra agonizante. No meio do nada.
Gosto de tudo o que grita por vida. Para ficar com a certeza de que nada termina.
Será por isso que gosto de agitação, terras grandes, estradas barulhentas, pessoas apressadas? Não o sei. Mas sei que gosto. O que eu não gosto é de silêncio.

1 comentário:

maria disse...

...mas há dias em que o silêncio é bom!!!!!