domingo, 6 de novembro de 2011

caindo e descaindo na tarde de domingo



Deixei a linha amarela. Despedi-me da minha companhia com dois beijos e um " fica bem " e segui para o metro que me levaria ao terminal de camionagem em Sete Rios. A passadeira rolante a caminho da linha para a Amadora está parada há mais de um mês. Se calhar a crise já aqui chegou. No Marquês, espero sempre impacientemente, que não sou mulher de grande paciência para transportes. Hoje não aconteceu assim. Galguei dois a dois, os degraus da escada rolante, com risco de cair num espalhanço que já não seria o primeiro, qaundo ouvi o sinal sonoro anunciando que o metro parara. Entrei a correr na primeira carruagem que vi. Sentei-me ao lado de alguém. Não sei se homem se mulher. Não por parecer indefinido mas porque não olhei sequer para a criatura. Ao fundo da carruagem, preparava-se para mais um peditório acompanhado de show, o rapaz que tenta tocar rap com uma lata e um ferrinho. É conhecido demais de todos os que andam de metro na cidade. Cego, pedinte e mal humorado, por vezes a raiar o mal educado, passeia-se pelo metro de todas as linhas, dia e noite, exibindo a lata, para uma nota ou moeda e oferecendo o seu ruído pretencioso e a voz num esforço inútil de fazer música e cantarolar o tal rap de que falo, refilando com uns e outros e atingindo alguns com a sua bengala.
Olho as pessoas que se encontram de pé.
Sorridentes. Mais do que sempre. Elegantes como nunca. Jovens, muito mais jovens. Cheias de energia. Respirando saúde. Lindas.
Ahn? Olho de novo. Estarei a ver bem? Sou eu que estou a sonhar ou o metro tirou o domingo ao fim da tarde para me atrofiar? Estes dias de fim de semana não escolhem pessoas giras para o metro transportar. Escolhem pessoas pobres, tristes, doentes, gordas, feias e sem auto-estima. Daquelas que vivem na periferia e se deslocam de metro a qualquer hora, mesmo depois das onze. Iguais a mim, hoje. E a todos os hojes quando viajo para ir encontrar a semana longa e distante dos que amo mais que tudo.
Volto a olhar para as pessoas que ali vão bem à minha frente. Todas acompanhadas. Todas felizes. Todas com ar de irem ao encontro das coisas que gostam.
Que têm hoje os meus olhos que estou com alucinações?
Na verdade, ao domingo ao fim da tarde, não há pessoas infelizes à minha volta. Nem velhas, gordas, feias, pobres, doentes e cansadas.
Ao domingo ao fim da tarde essa coisa da pena funciona lindamente de mim para mim e não fosse existir a sexta-feira e eu seria uma ausente. De auto-estima.
O que vale é que amanhã já é segunda-feira e esta semana há uma novidade. Um aniversário para festejar. De alguém lindérrimo, elegante, jovem, cheio de energia, saudável, que embeleza e enriquece a minha vida.

1 comentário:

nuno medon disse...

então foi uma viagem ao som de alguma música, portanto. *