sábado, 30 de março de 2013

boa Páscoa...


Boa Páscoa...

Uma criatura chega a uma idade que já viu quase tudo. Já passou por quase tudo, já ouviu quase tudo. O quase que falta é o que nos mantêm interessados na vida. E ainda nos vai surpreender.
Esta noite recebi um convite para jantar num restaurante todo XPTO, na baixa, mais precisamente na Praça da Figueira, a escassos metros do local onde vou dormir. E aceitei de olhos fechados. Na hora. A companhia, a melhor do mundo.
Meu pulmão, meu coração, meu aconchego.
E fui. E fomos. E o restaurante é óptimo. A comida muito boa, os empregados muito simpáticos e a relações públicas cinco estrelas. Chama-se Honra e pertence ao Olivier. 
Até aqui, tudo normal, foi mais um jantar. Gostei bastante e amei estar de companhia da minha cria mais velha que hoje particularmente estava linda, faladora e bem disposta. Mas foi mais um jantar. 
De regresso a casa, um grupo de pessoas jovens estava parado à boca da passagem para a travessa. Dois dos jovens sentados nas escadas de acesso à travessa bebiam cerveja como o fazem no Bairro Alto ou no Cais do Sodré . À nossa passagem quase que em uníssono os dois jovens disseram um boa noite sonante que me contagiou respondendo-lhes no mesmo tom.
Mas não ficou por aí. Ao chegarmos à travessa, como que tivessem andado a semear jovens idênticos pelas ruas da baixa, outro encostado a uma parede, mijava. Perdoem-me a palavra mas dizer que estava a urinar, ou a fazer xixi, é pouco. A criatura mijava mesmo para a parede. Contra a parede. À socapa. Na calada da noite. No escuro. 
Mas esta forma de verter águas, como se diz aqui na tuga, fazer menores, como se diz na minha terra nada tem de surpreendente. Os homens têm a maior facilidade em desapertar a braguilha e aí vai disto que é democrático. E a culpa foi das mãezinhas deles que quando começaram a andar e pediam para fazer pipi, as próprias agarravam neles, coitadinhos dos meninos, os seus ai jesus, escolhiam um sítio recatado perto de uma parede e zás. Se o pimpolho não conseguisse, ainda faziam o típico xxxxxxxxxxxxx, para que fosse embalado e desatasse a fazer os ditos menores. Todos sabemos que temos culpa.
Por isso nem articulei um som que fosse, passando ao lado e com o olhar longe daquele espetáculo deprimente.
O que me surpreendeu foi que enquanto a criatura desenvergonhada vertia águas agarrado à minhoca, dizia: Boa Páscoa! 
E eu que cheguei a esta idade e já ouvi quase tudo e mais um par de botas nunca tinha ouvido votos de boa Páscoa, enquanto alguém mijava. Mas, porque a idade não deixa que me desconcerte, retribui ecoando na travessa: Boa Páscoa para si também.
Acontece-me cada uma!...

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