segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

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Subi o viaduto. Cedo demais. Saí de casa antes da hora. No alto, esperei pela boleia que me levaria ao trabalho. Enquanto esperava ia observando o que se passava ao meu redor. Há muito tempo que pela manhã não andava por aquelas bandas, a pé.
Um automóvel preto parou uns metros à minha frente. A porta do pendura abriu-se e uma mulher sorriu para mim: Vai para Alcanena? Venha.
- Não obrigada. Estou à espera de boleia.
Ela voltou a entrar no automóvel e brindando-me com um sorriso e um aceno de mão lá se foi.
Quem era esta pessoa simpática que me cativou desde que me cumprimentou a primeira vez? Que se despede de mim diariamente e à sexta-feira se despede com um bom fim de semana, no Natal com os votos que todos conhecemos e que me desejou bom ano? Num português mal amanhado desvalorizado pelo sorriso e o brilho nos olhos azuis lindíssimos? Não é senão uma passageira do autocarro do sr. margarido, que todos os dias viaja connosco. É ucraniana e trabalha na vila. Desce uma paragem antes de mim e com o sorriso, a educação e simpatia que possui, quebra o gelo, o cheiro a mofo que por vezes vai naquele autocarro.
Fiquei sensibilizada com a sua atitude e da pessoa que a levava e que não sei quem é. Embora ache que assim é que tem de ser, não tivesse eu vindo da terra onde as pessoas são francas, simpáticas e prestáveis, embora ache mesmo isso, sei que não é assim. E quando alguém tem uma atitude que já vi terem mas que nunca estou à espera que tenham, rejubilo feliz, que foi o que aconteceu hoje logo pela manhã. Desta mulher só sei o que me é dado saber. Não sei sequer o seu nome nem ela o meu. Mas hoje percebi que o nome nem sempre é importante para não sermos números.
São atitudes destas e d'outras que me incentivam a acreditar nuns e noutros e assim seguir em frente com a doce sensação de que há sempre alguém que faz algo desinteressado por nós.

3 comentários:

nuno medon disse...

olá. é muito bom quando se encontram pessoas simpáticas. isso fez-me uma lembrar a minha infãncia. a minha mãe deu aulas durante mais de 20 anos numa aldeia. devia ter eu, entre 5 e 8 anos e pus-me a pedir boleia á porta da escola. Um senhor com os seus 50, 60 anos, parou a sua carrinha e perguntou " para onde quer ir ? " e eu lá agradeci e disse que estava a brincar. bons momentos que passei naquela aldeia. beijos . durma bem

Anónimo disse...

lINDA HOMENAGEM A TUA A ESSA SENHORA.gOSTEI DE LER
BJBJ
lENA

Maria Clara disse...

Olá poetaeusou!
Gostei que voltasses.
Obrigada. Bjs