terça-feira, 3 de junho de 2014

nostalgia ( Deep Purple - Soldier of Fortune )




Há momentos da vida, remetidos para o quarto escuro, fechados a sete chaves. A serem tratados como mortos. Esqueletos. Fantasmas. Apenas.
Eu sou feita de tempo. Carrego malas, sacos, baús, trouxas, imbambas, pedaços de histórias, vivências. Não posso fazer a cruz por cima, usar o mata-borrão e apagar-me para sempre. Mas tento.
Sou feita de passado. Carrego os momentos únicos. Felizes. As esperanças e sonhos. Ilusões. As descobertas. Os amores. As paixões.
Carrego os desamores. As derrotas. Humilhações. Traições e desenlaces. Perdas...
Há momentos da vida para lembrar sem mágoa nem arrependimento.
E há aqueles que são para esquecer porque doem quando ressuscitam a um qualquer estímulo mesmo que inofensivo. 
Sou feita de nostalgia. Do que fui e já não sou. Do que não fui capaz de ser e ter. Do que se extinguiu. 
Sou feita de energia e tudo tem o seu tempo.
Há três décadas atrás apaixonei-me. Por Soldier of Fortune, dos Deep Purple. E passou a ser a música da minha vida. 
Foi no tempo feito de melodias, poemas, aroma de rosas, estrelas no céu brilhando, pirilampos e luares de Agosto. 
E enamoramento. Entre promessas, juras, abraços e beijos, gira-discos, cassetes e LPs.
Porque era a música da minha vida, abri o salão, dançando-a, vestida de noiva, feliz e acabada de jurar amor para sempre, lealdade e fidelidade até que a morte me separasse. Do amor.
Como tudo o que acaba, esqueci a música, o nome dela e quem a cantava. Ao longo dos últimos anos, tentei. Lembrar-me. Numa tentativa frustrada de a recuperar, recuperando assim parte da minha vida. Em vão.
Como se nunca a tivesse cantado. Como se nunca a tivesse dançado. Como se nunca tivesse amado.
Passaram trinta e quatro anos desde aquela vez, a última de que me lembro, no dia do meu casamento. 
Hoje encontrei-a. Como que por magia, feitiço ou karma. Como se encontra qualquer coisa. Por acaso, coincidência ou porque tinha de ser.
Que importa?! 
Não se perdeu de mim, nem eu, dela. 
Uma miscelânea de sensações se apoderam de mim.
Há momentos da vida em que nos visita a nostalgia, de braço dado com a sensibilidade e dá-se o reencontro com as nossas fragilidades. Ao som de Soldier of Fortune, dos Deep Purple.

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