quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

um dia destes...

Um dia destes, junto as minhas mágoas, ódios de estimação, vinganças e até frustração, que trago guardados na fatídica gaveta da memória, descomplexo calcanhares de aquiles, lanço tudo às feras e faço uma fogueira, gaste o que gastar. 
Converto tudo em cinzas, que ao mar vou deitar e acabo com um, mil e mais um, de muitos capítulos, mil e mais que muitas, tristes histórias que me andam a encher. Que estão a transbordar.
Um dia destes, junto as minhas asneiras, enumero-as, uma a uma, com precisão e intimidade, trato-as com todo o cuidado, mesmo os pais nossos tortos, os aviõezinhos com os dedos, impropérios, inconveniências, matumbices, precipitações e distracções, faço-lhes um velório, com velas e flores, tulipas negras, véus, carpideiras, mãos no peito, por minha culpa, minha tão grande e única culpa. Mil perdões, pelas ofensas, más intenções e piores decisões e vão jazer em paz nos quintos do inferno. P' ra não cair em tentações, recaídas, inevitáveis seduções. 
Um dia destes, pode ser a inventar, semana de nove dias que alguém há-de achar, vou despir-me sem pruridos, inquietações, nem travões, vou tomar banho de luar, estrelas cadentes e o que no céu mais estiver a dar, vá lá, chuva também e lavar, esfregar e limpar a alma com fé, até esta se libertar dos kalundus e purificar. Olhar o mundo de baixo, do lado e também de cima, para me convencer que são todos como eu. Nus de más intenções, cobertos de muitas razões. Humanos no errar, desumanos no sentir, ímpares no amar. Iguais no ressacar.
Um dia destes, sem marcação d' hora, agenda, nem cruz no calendário, sem compromisso afinal, muletas, sorrisos pardos, pancadinhas nas costas, ou apupos e indirectas, ressabiamentos e outros males menores, apenas um dia e só, daqueles que o universo escolher, vou ajoelhar. Pedir perdão e orar. Para me ressuscitar. E me converter.
Para novamente viver a ganhar, empatar e perder. Dar vazão ao coração e ter espaço e oportunidade, sabedoria, esperteza, matreirice e muito jogo de cintura para de novo me magoar. Perdoar. E asneirar. Na gargalhada de desdém, nos aviões com os dedos, nas bocas para lá de foleiras, no erro ou propósito de não me requintar.
Para ao sabor do tempo, do vento e do que for e será, me repetir e também inovar.
Um dia destes...se não for antes...

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