domingo, 14 de dezembro de 2014

uma história de quase natal

- Que chatice, a greve! A semana que vem vai ser dura. O que vale é que só faltam duas semanas. Temos a apresentação dos trabalhos...
- Temos que avisar a professora.
- É. E olha que nem a do metro é de 24 horas...
- Vamos mudar de assunto, Miguel que é que pediste ao Pai Natal?
- Tudo. ( sorrisos malandros para o lado e para a frente onde estavam as meninas )
- Meias...( risos ). Tens que pedir juntamente com o livro.( disse ela )
- Os meus pais dão-me sempre tudo o que quero. ( ele )
Elas olharam uma para a outra. 
- As meias dão sempre jeito ( uma delas ) eu gosto de receber. 
- Yeah! Pijamas não curto, mas meias gosto. Bem quentinhas. ( a outra )
- Eu gosto de receber pijamas. Dos polares. ( a primeira )
- E de preferência com lençóis polares também, p' ra ser o pacote inteiro. Não tenho nenhuns. Só de flanela. ( a segunda )
- E tu Miguel? Só calores né? Dormes de ar condicionado.
E o Miguel ri-se. Sem jeito. Elas já tinham estado a falar da bolsa de cada uma. Que dava para o passe e para alguma parte das propinas mas não as cobria na totalidade. Ele de Cascais, onde vivia. Do atraso dos comboios. Que se verifica mais que nunca agora.
- Sabes o que são lençóis polares, pijamas polares? Sorriso de desdém. ( uma delas )
- Soube há 2 minutos. (ele) Riram os três. 
Claramente, elas eram as estudantes pobres. Ele o menino rico. Os três, parecia, darem-se muito bem. 
Eles ( dois ) em frente de mim e uma ao lado. No metro.
Eu a caminho da Baixa. Ainda sem o espírito do Natal. Sem vislumbrar a rena e o pai natal, a neve e os coscorões. A chaminé e o sapatinho. A aletria, o polvo e a missa do galo.
A pensar em presentes possíveis. Meias? Nunca gostei que mas dessem. Lençóis também não. E pijamas pior um pouco. 
Há dias dei comigo a pedir um pijama. E compraram-mo. Meias e lençóis não me ocorreu, mas...também não dizia que não.
Eu a caminho da Baixa. Ainda sem o espírito do Natal...
Eu a querer saltar a quadra. Mas sem energia para o fazer. 
Eu a não querer apagar o sorriso que os putos me deixaram.
Eu sem o conseguir.
Não há natal que me alegre. Sem o espírito natalício. Eu que nunca estive tão pobre. E o espírito reclama. 
E não vá empobrecer-se também o espírito...

Sem comentários: