Logo pela manhã, uma amiga telefonou-me, dizendo que tinha sonhado com um ex- namorado que não via há muito tempo e estava esquecido, no passado, há mais tempo ainda.
Perturbada ( pudera! ) tinha um certo receio de levar o sonho a sério e transformar-se num daqueles caldinhos, que de quentes, queimam sem querer.
- O que é que isso quererá dizer? perguntou-me um pouco aflita.
- E eu sei? respondi-lhe quase sem pensar.
E encanei a perna à rã. Pois, não é, coiso e tal, tal e coiso, não ligues a isso, às vezes acontece, mas não tem importância, basta um pensamento, o nome escrito num sítio qualquer, marimba-te para isso, é só um sonho. Blá blá blá...
Mas o certo é que fiquei a pensar nisso.
Não é por nada, mas é que uma vez, uma noite, já lá vão muitos anos, décadas, direi, sonhei que uma criatura, ( à época, um príncipe de olhos claros, loiro e 1,75 m de altura, de humor brilhante, desportista e com a escola toda ) que me tinha entrado na vida, era eu ainda uma menina e saído, menina era, passados que tinham sido, uns bons anos, já eu era mulher feita, quase madura, mas não a cair de podre, me aparecera no emprego para me ver. Assim, como que por artes do diabo ou do universo, sei lá eu. Outro país, outras vidas, outras situações, outras pessoas...memórias parecidas.
E, na manhã seguinte, como se fosse natural, inevitável, como se estivesse escrito, como se fosse um ajuste de contas, ou mesmo sem razão alguma, numa coisa do arco da velha, como é que hei-de dizer que não tenha dito já, numa coisa do além, que ainda hoje não sei explicar, lá estava, caindo-me na sopa, tal como no sonho. Mais velho quase duas décadas como o sonho me tinha dado mostrar. Aquilo a que se pode chamar, o homem de sonho, ou melhor, o homem que me chega do sonho.
A probabilidade do tal sonho se realizar era praticamente nula, mas por artes de magia ou outra coisa qualquer, vai-se lá saber o quê, serão energias? transmissão de pensamentos e de sonhos? destino? tornou-se verdade e vivi, meio incrédula, o meu sonho da noite, ali, no meu local de trabalho, tal qual acontecera de noite, enquanto sonhava.
Porque existiu esse tal namorado de quem gostei muito, tanto que passados 18 anos me caiu na sopa, do nada, ou do tudo, que a vida nos proporciona, é que fiquei sem saber o que responder à minha amiga.
Mas agora que penso melhor nisso, à parte concluir que sou uma grande sonhadora, tão sonhadora que o sonho me pregou uma surpresa, uma partida, uma grandessíssima ironia, à parte tudo isto, há uma coisa que ela ( a minha assustada amiga ) pode fazer. Sopa. Para a queda ser mais fácil.
Se por acaso lhe agrada que ele possa aparecer e fazer do seu sonho, realidade, para a cozinha já. E preparar a colher de pau.
Ex são ex e não há nada a fazer. É uma viagem perdida. Um sonho que devia ter sido vivido no tempo certo. Um sonho enganador.
Podem sair do passado e atravessar o nosso presente, virem ver a quantas a gente anda, se estamos velhos, comprometidos, lá está, caírem-nos na sopa, mas depressa metem o rabo entre as pernas, se percebem que se meteriam numa grande açorda, para não falar numa indigesta caldeirada. De peixe pungo.
Sonhos. Não mais do que isso...
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