Baixam as luzes. Faz-se silêncio na sala.
Começa a peça.
Quando entras, o mundo pára.
Na sala atenta, expectante, escura e silenciosa, os meus olhos não são iguais aos outros. E tu, sabes. Sabes-me olhando-te.
Sei-te de alma e corpo presente no movimento que magicamente crias para o mundo. Para mim.
Há no meu respirar uma vida mais importante que a minha. Pendente. Ansiosa.
Há no teu respirar uma crença espalhando verdade, quando, ali,no palco que é a tua inspiração te desnudas e me ofereces o mais puro e belo gesto de amor à vida. A tua criação.
Há um arrepio geral. Sinto-o nas cadeiras que estalam, no respirar suspenso, na energia que se espalha.
Há uma emoção que não chega sozinha.
Só tu existes. Só eu existo. Só a lágrima nos une.
E o teu olhar em mim e o meu olhar em ti. Voltas a ser o meu feto. Eu a tua placenta. Nós, presos pelo cordão umbilical.
Há uma vénia. Perdes a pose que se agigantou ao longo da peça e ganhas a tua identidade, regressando à alma que cabe no teu corpo bonito. Normal.
Acendem-se as luzes. Levanto as mãos. Em palmas. Estas mãos que tantas vezes já te aplaudiram. E outras tantas te acariciaram. Te embalaram. Tantas vezes te querem afagar. E aplaudir...
Sorris. E agradeces, as minhas e todas as palmas que ecoam na sala. Humildemente te curvas perante nós.
Humildemente agradeço a tua doação. Que faz de mim um ser igual a ti. Especial.
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