terça-feira, 5 de novembro de 2013

é p' rá manhã

Amanhã é outro dia.
Vou encontrar-me com o outono, em terras de interior. 
Digo eu a esfregar as mãos de contente. 
Não, não pirei. Não virei o bico ao prego, nem tão pouco acho o Ribatejo o melhor lugar do mundo. Perdoem-me os ribatejanos. 
A natureza é fantástica ali mas as terras não são apenas paisagem. E, cada um com a sua região. Com os seus costumes, com os seus defeitos e qualidades. Com a sua tacanhez. E soberba. Eu nunca menti a respeito.
Mas de facto, a possibilidade primeiro, depois a decisão de lá ir, por fim, o acerto com quem me há-de trazer de volta, deixou-me optimista. Quase aos pulinhos.
É que vocês não sabem, mas tenho andado um pouco deprimida. 
Não, não. Repito que não é o Ribatejo a ausentar-se em mim e eu nele, a provocar esse estado depressivo. Até hoje não, daqui para a frente vai-se lá saber?! Até já vi porcos voarem...
Então, qual o motivo do meu desconforto a misturar-se com um não sei quê de triste e frio?
É simples. O outono está lá arrumado em gavetas. Cabides. Sapateiras. E eu aqui junto da cidade grande, num clima que até há pouco era ameno mas que num repente me lembrou que ainda não me instalei de armas e bagagens neste lugar.
Preciso de casacos. Preciso de cachecóis. Preciso de sapatos fechados. De botas. 
Diz que quem tem duas casas é rica. Mesmo que as duas juntas não valham um cu. Dizem que tem mais emis para pagar. E manias também. Rica não sou nem a caminho disso, manienta, acho que também não. Mas não posso prová-lo. 
Sei que por vezes lá vem uma insinuação, uma provocação, para os mais atrevidos e indelicados, uma acusação, porque ah e tal, nariz empinado, emproada, engoliu um garfo, e tal e coisa. Pudera! Eu vejo o mundo do alto de 1,73, convenhamos. 
Os cães ladram e a caravana passa, o que não vai passar é o frio e a chuva e eu amanhã lá irei encontrar-me com as minhas bikuatas . Fazer imbambas e trazê-las para este kimbo onde passo quase todo o tempo do mundo. No fundo no fundo, vira o disco e toca o mesmo. Posições diferentes mas é mais do mesmo e a isto já estou habituada.
De modos que, amanhã é outro dia. E eu vou pôr-me a caminho para mais uma visita àquele que foi o meu poiso durante trinta e sete anos. 
Há coisas que nunca mudam e quando a gente está amarrada a um lugar, dê as voltas que dê, não consegue soltar amarras e esquecer. Até porque outros valores mais altos se alevantam e desses escuso-me a falar. Só porque sim.

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