Isto da pessoa ir para a praia todos os dias tem que se lhe diga. Digo eu, já que não está mais ninguém por aqui para contar como foi.
Ele é metro até ao Cais do Sodré. Ele é comboio até ao destino. É andar até à praia.
E é também, esticar a toalha. Arrumar as imbambas, espreitar o mar. As ondas. Os surfistas. A bandeira. O nadador salvador.
E também ir pé ante pé, na elegância possível e atrevimento que baste, molhar o dito pezinho na poça de água onde a criança chapinha. A ver se a temperatura está boa. A ver se há mar e mar. Que valha a pena.
Ganhar coragem e avançar. Devagar. Entrando e arrepiando. E avançar. Cada vez mais perto dessa água que vai unir-se ao nosso mar. Cada vez mais longe de me afoitar e mergulhar de cabeça.
Penso para com os meus botões.
Quê deles? Ops! Procuro no biquini novo e não encontro. Modernices.
Será? Na verdade não tenho memória de acessórios tais em peças destas, até porque faz sentido, afinal a gente não se vai banhar? para quê falar com este aquele e mais com os botões? É para banhar é para banhar. E má nada que isso já exige muita concentração e alguma coragem. As ondas altas derrubam-nos. Os mergulhos dos outros podem perturbar-nos e metermos água. E salgada, que parece que somos bacalhau na salgadeira.
Mas fiquei em modo de pensativa porque por mais voltas que dê à ambição não sou capaz. Lamento. Me chamem cobardolas, mariquinhas pé de salsa, me chamem até atrasadinha das dúzias, anormal e matumba, não quero nem saber e tenho raiva a quem sabe. Também não faço figurinhas tristes e infantis como apertar o nariz com os dedos e descer na vertical mar dentro, de olhos fechados, ou abertos que sei eu?
O mar é minha testemunha, não sou capaz de mergulhar. De cabeça. E me entregar nesse prazer. Será que tem? Pelo jeito que observo, parece é a melhor coisa que fazem na vida. Ficam mais homens num segundo. Quem diz homens, diz mulheres. Elas então, parecem sereias entrando nas águas e trespassando-as. Sereia já não sou, no limite sou ex, já eles parecem tubarão, rei e senhor do mundo aquático.
Por isso como não me importo de não ser mais sereia, já dei lugar para outras há muito tempo e não gosto de tubarão, sabe-se lá porquê, não gosto e pronto, qual é a crise de não mergulhar? Não é nenhuma.
Por isso digo que isto de ir para a praia todos os dias tem que se lhe diga. E não gosto do que oiço por aí. Mas vou. Hoje foi mais um dia. De praia. E mesmo que não mergulhe de cabeça, dou umas braçadas ao encontro dos encontros felizes. O que já não é mau. Não sou uma sereia, nem para lá caminho, porém posso nadar que nem peixe, assim tu me ensines. Ou melhor, assim tu mo peças. Incentivo é a palavra de ordem.
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