A minha vida é feita de pequenos intervalos. Densos. Curtos. Desejados.
Chorados e gargalhados.
De pequenos milagres. Surpresas. Bênçãos. Sinais de Deus. Destinos. Ironias.
É feita das fases da lua. De caminhos e horizontes.
De horas contadas e marcadas. Desmarcadas. Inventadas. Apagadas.
E relógios inevitáveis e certos. Tiranos.
Campainhas despertando-me para o tempo. Acordando-me. Encaminhando-me. Musicando-me.
A minha vida é feita de ilusões, visões, sonhos e realidades. Expectativas.
De saltos e habilidades. Quedas e escorregadelas. Desvios e outras manhas e artimanhas.
E faz-se por etapas. Por estações. Por desejos e ambições. Aceitações.
Na minha vida, há pessoas fazendo escala. Não mais que em trânsito.
Não mais que um dia, uma semana, um tempo breve e limitado.
Não mais que um beijo, um abraço, uma palavra. Um adeus.
Não mais que um apelo. Uma intenção.
Parece estranho. Parece mau. Parece uma maldição. Parece mesmo uma predestinação.
Para os pessimistas, uma vida inconstante e pobre. Nómada. À procura do equilíbrio. Reinventando memórias, imaginando estórias de viagens e bagagens.
Sonhando com beijos e abraços. Portos e aeroportos. Faróis. Âncoras soltas.
Pontes velhas ruindo. Pontes móveis. Tempo curto para o apego e a aceitação.
Mau porque sabe a pouco. Não criam raízes. Nem em nós. Não dão tempo a que os amemos como mereceriam. Parece, não se deixam amar.
São como uma brisa, como uma miragem, como um sonho interrompido. Como uma ilusão.
São um tempo breve onde cabem dois abraços. O da chegada e o da partida. Sem intervalos. Onde cabem silêncios quebrados por sorrisos e angústias.
Olhares ansiosos e tristes.
Para os optimistas, uma vida de qualidade. A possibilidade. A concretização. A exaltação.
A realidade cronometrada ao segundo, a oferecer momentos de rara beleza. De união e de verdade. De importância e de entrega.
De sentimento. De exacerbação. No limite.
Na minha vida há sempre pessoas fazendo escala. Ora chegam, ora partem. Ora estão, ora não estão. Ora parece que foram embora e logo voltam. Ora não chegaram e já estão de partida. Ora prometem e nunca mais chegam. Ora não estou eu. Ora dou um jeito de estar.
Na minha vida há vazios. Muitos vazios, que se preenchem a cada dia. A cada viagem, a cada abraço. E se renovam. Num círculo vicioso. Que me parece bem. Que me renova também a esperança e me quebra repetições. Que me incentiva.
Que me transforma número em coração. Que me grita a evidência da existência.
Que vale a pena.
Na minha vida há pessoas que estão sempre entre a lágrima e o sorriso.
Na onda que vai e vem.
Entre a noite e o dia. Entre a chuva e o sol. Entre a maciez d'um gesto e o arrepio.
Entre o silêncio e a palavra.
Há abraços antigos na expectativa. Entre meses. Anos. Entre séculos.
Na minha vida há e haverá sempre pessoas e abraços fazendo escala. Em trânsito...
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