Atravesso a ponte. Enquanto o faço, lembro um pesadelo.
Era um certo dia. Uma vez, de tantas que ali passei. Era uma manhã calma e indiferente à minha falta de vontade de seguir em frente.
Era a derrota a render-se ao futuro.
Era a tentação de parar. E calcular como seria a vida sem mim.
Era um dia fora de mim. Era uma tentativa frustrada de sonhar. Antecipar...
Sinto um arrepio. Esta é a pele que hoje visto. Arrepia-se aos pesadelos.
Pensamentos, que tento matar na memória que armazena o bom e o mau na sua força maior. O que é para esquecer, não devia ser lembrado. Nem em sonhos. Pesadelos são noites mal vividas, dias insuportáveis, manhãs dolorosas, sonhos mortos, pessoas diabólicas, veneno, mal, mal e mal minando, prendendo, bloqueando sonhos e futuros.
Sinto um arrepio. Deve ser da brisa que no fim da tarde acaricia os corpos cansados, as almas inquietas, a pele curtida do sol, as memórias despertas.
Outros atravessam a ponte. Acenam-me. Não os conheço. Ou são loucos e já pararam algures num ponto qualquer da vida, ou já me
acenaram noutra qualquer encruzilhada.
Atravesso a ponte. As pontes são demónios, se os pesadelos vencem os sonhos. Passá-las são desafios.
Antes do sol se pôr, de ver o sonho morrer, a noite a velá-lo, antes dos fantasmas ganharem forma, passei a ponte. Hoje.
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