sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

utopia?


Há uns dias, a uma mesa de um restaurante em Campo de Ourique, enquanto saboreava comida japonesa, nomeadamente sushi que é um vício p'ra mim, rodeada de três mulheres inteligentes, sensíveis e atentas, surgiu a conversa. E como a conversa é como as cerejas, fomos de tema em tema. Chegámos ao ponto de questionarmos porque já pouca coisa nos surpreende. Mesmo as mais bizarras. 
Na verdade eu que já vivi mais tempo que as outras pessoas que comigo almoçavam estou já nessa fase, o que considero triste e muito solitário. Que elas também estejam não me surpreende porque somos farinha do mesmo saco.
Há conversas interessantes entre pessoas do mesmo sangue, crescendo com os mesmos princípios, com a mesma atitude. Aprendendo a questionar desde logo e encontrando justificações para os actos que se dizem anormais em sociedade.
Gosto de saber as minhas pessoas à imagem de mim. A nossa existência solitária torna-se menos só. 
É olhando a folha do vencimento, ouvindo as notícias, lendo rodapés de telejornais que eu gostava de me surpreender. Mas não. 
Estou cansada e triste das notícias que nos chegam do mundo. Quando a vida vale tão pouco que a troco de nada ou seja do que for, se tira. 
Estou cansada e triste. São vigaristas, corruptos, oportunistas a cada hora, a cada notícia mexendo na minha, nossa vida, na nossa harmonia, saúde, formação, conforto, no nosso equilíbrio. 
São escândalos atrás de escândalos que me fazem questionar e entristecer.
Não evito pensar com orgulho, carinho e agradecimento em sô Santos, meu pai. Na minha querida mãe. No meu avô Carvalho. No tio Augusto. Figuras demais importantes na minha vida. Não evito pensar que se todas as famílias do mundo tivessem uma frisa destas, o mundo inevitavelmente seria mais honesto, mais amigo, mais sensível, mais generoso, mais saudável.
E porque saúde emocional é um bem que está em carência, entristeceu-me embora não me surpreendesse, lá está, eu queria surpreender-me mas não sou capaz, a notícia de assédio sexual na Igreja. Há uma hipocrisia sem tamanho que me dá volta às entranhas quando a gente ouve que a Igreja que me baptizou, fez-me a 1ª comunhão, solene, crisma e me casou, essa Igreja que neste país é soberana e sagrada, que condena o aborto, a homossexualidade, as relações sexuais se os intervenientes não estiverem unidos pelo casamento, os contraceptivos, é esta Igreja que com os escândalos que os jornalistas trazem a público, não me surpreende, vai-se lá saber porquê, mas me envergonha. Não pelos actos só por si vergonhosos mas mais pela hipocrisia.
Qual é a solução para isto? 
Recordo mais uma vez uma mulher que partiu há pouco tempo da minha vida, mãe de uma amiga, que dizia: Este mundo já não é para mim. Ou poderei recordar Jesus Cristo ou Saramago quando diziam que este mundo não é do meu reino ou este reino não é do meu mundo...
Gostava de não ser tão só nesta coisa de não me surpreender. Ou gostava de me surpreender e não de me entristecer. 
Gostava de ligar a televisão e ouvir a notícia de que sou governada por gente de bem, que quer o melhor para o seu povo e seu país. 
Gostava de ligar a televisão e ouvir que a Igreja contribui para a fé e a esperança entre os seus paroquianos. Para a verdade e transparência. 
Peço muito? Utopia? 
Eu só queria que o mundo melhorasse. Começando por mim, pelos meus vizinhos, amigos, conhecidos e continuando pelo que não conheço e está mais além. 
Eu só queria abrir a boca e numa expressão incrédula, surpreender-me...

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