sábado, 22 de outubro de 2011

ser mãe...

Porque hoje é sábado, estou na cidade do Almonda e sou mãe de um artista, tenho necessidade do blog. Não para meu confidente. Não para publicitar. Mas para partilhar. Tenho para mim que um acontecimento feliz só tem real valor se o partilharmos, como as viagens que fazemos sozinhos, que acabamos a narrar a um amigo, um familiar, alguém, para que sejam perfeitas.
Hoje a minha viagem recua vinte anos. Quando no teatro da cidade, no palco do teatro da cidade, uma criança que eu parira iniciava as suas aulas de dança. Era ali a escola. A única, na cidade.
Foi ali que durante anos e anos diariamente vi evoluir a aprendizagem. Nascer a garra, determinação e prazer nessa forma de arte tão delicada e poderosa.
Naquele palco, com aquelas pessoas, partilhei momentos belos de rara alegria e prazer. Noites cheias de corações enormes em corpos esguios e corações apertadinhos de ansiedade em orgulhos de mãe.
Ser mãe de um artista é ter o coração nas mãos, o sorriso à beira das lágrimas, a cabeça a mais de mil e a boca calada com milhões de palavras bailando nos lábios. Ser mãe de um artista é sofrer por antecipação. É estar na corda bamba com ele. No limite, sempre.
É erguer as mãos em preces e agradecimentos. E palmas.
Ser mãe de um artista não é melhor nem pior. Não é fácil nem difícil.
É diferente.
O que é preciso então para ser mãe de um artista?
Nada de mais. Apenas Amor e Arte. Muito amor e muita arte...
Hoje, mais logo à noite, quando o artista que eu dei à luz, evoluir, na peça que ensaiou, no palco aonde um dia, há vinte anos eu apoiei no desejo de ser bailarino, tenho a certeza que não terei dúvidas de que ser mãe de um artista é ser diferente, e muito, muito compensador.

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