domingo, 9 de outubro de 2011

aspiração/presunção



Um dia, quero e vou aprender a escrever.
Encontro uma caneta sábia, sensível, um caderno inspirador...
Numa mente disponível e num coração aprendiz, há-de nascer um desejo ambicioso. Um lugar para começar...
Junto as letras. Formo ditongos.
Preparo as palavras. Acentuo-as. Anasalo-as. Dou-lhes côr, música e movimento. Crio espaços, pinto linhas.
Desenho minúsculas. Exagero nas graves e inovo nas esdrúxulas.
Não quero só monossílabos por isso uso a gramática.
Sorrio nas interrogações e relaxo nas reticências. Experimento os pontos e as vírgulas e os dois num. Inovo noutros dois pontos e admiro-me nas exclamações.
De vez em quando páro nos pontos parágrafos. Ressalvo as dúvidas e escolho momentos para os parênteses e aspas.
Deixo o sonho tomar forma, embarco na viagem e não entrego os pontos, nos finais.
Serei como peixe dentro d'água, múcua no imbondeiro, welwitschia no deserto, andorinha na primavera, cretcheu do caboverdiano, índio da Amazónia, onda beijando a praia, negro em África, albatroz nos mares do sul, neve no Alasca.
Serei eu na avenida brasil... prosa e verso.
Nesse dia vou acreditar que já sei escrever.
Depois...depois, escreverei o que tu mereces ler...

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