quarta-feira, 10 de agosto de 2011

desconforto

Subir o viaduto é obra. Logo pela manhã. Parece a direito mas não é. A meio começamos, quer dizer, começo eu, a soprar como se estivesse a vazar. E custa. Muito. Sobretudo se não se tem o hábito ou a precisão de galgar viaduto acima. Houve um tempo que eu subia o viaduto com uma perna às costas e não foi há muito tempo. Depois trocaram-me as voltas; passei a ir de autocarro e a volta foi outra e hoje não posso com uma gata pelo rabo.
Voltei a subir o viaduto. Pelas 8,30 e debaixo de um sol escaldante numa temperatura de 25 graus. Cheguei lá acima a precisar de um duche. Como é que logo pela manhã uma criatura que inevitavelmente, transpira, terá de ficar transpirada para o dia inteiro, pois que o emprego não nos oferece um chuveirinho para nos banharmos quando escorremos suor pelas costas abaixo? Isso é que era. Cada um tinha a sua toalhinha e quando houvesse necessidade, fariamos um intervalo para nos banharmos...era fixe e evitava os maus cheiros que por vezes nos atormentam, assim, daqueles cheiros que nos fazem lembrar refogado, que o meu nariz apurado detecta assim quando ainda venho lá longe e a minha vesícula rejeita que até se pôe a latir se eu tento desesperadamente ignorar. É que há corpinhos que precisam não só de banho mas não sei, também, de um desodorizantezito, uma gotas de água de colónia, nem que seja lavanda, serve, pois serve, e não pôem as minhas entranhas revoltadas e enjoadas comigo por não tomar medidas. Mas como é que eu posso dizer a uma criatura assim de ao pé da porta: Lave-se criatura de deus! Ou: E um desodorizante, não? Eu ofereço, não seja por isso...
Não posso, mas agora já percebo. Se essa criatura subir o viaduto todos os dias, não tiver tomado banho nem mudado de roupa, nem se tiver aconchegado com um cheiro que neutralize o outro, ah pois é, inevitável que cheirará a cebola, a coelho ou a qualquer outro cheiro daqueles que ninguém gosta.
Mas porque é que eu me sujeitei ao viaduto e suas consequências nefastas? Ora, porque é que havia de ser? Como está escrito que as minhas promessas não valem a ponta de um corno, pois sou como os cadastrados, reincidente, fraca, mulher de várias palavras, cada circunstância, uma, cada dia, outra, se meter comida então, já nem há palavras para descreverem a minha vergonhosa conduta, ora dizia eu que tal como está escrito que não vale a pena jurar e rejurar que é perda de tempo e de palavra, também é perda de autocarro apesar de tentar muito chegar a horas. Ora, mais uma vez, acordei às 7,47 e assim não deu. Ou tomava banho...ou tomava banho. E jamais conseguiria pôr-me ao fresco em 13 minutos. Liguei a quem de direito, que neste caso foi uma colega que até está de turno tal como eu, quer dizer, não estamos de turno, o tribunal é que está, nós estamos a ferro e fogo, mas vai dar no mesmo. Somos poucos e nesses poucochinhos há alguém que me pôde levar. Por isso a minha aventura. Por isso esperei à sombra duma tileira que a minha boleia chegasse. E enquanto esperava, sentia o desconforto do maldito suor a correr pelas costas abaixo. Logo hoje que me vesti de preto e branco. O que vale é que o automóvel da minha colega já vinha fresquinho e foi uma viagem em beleza até ao dito emprego, trabalho, tarrafal ou seja lá o que fôr. Ar condicionado tem e ventoinhas também. É que o dia hoje não está para brincadeiras. Ainda se eu pudesse estar deitada à sombra da mulembeira...

1 comentário:

Anónimo disse...

...e depois há aqueles que não tomam, banho mas se encharcam de perfume...
Que horror!

Bj Elena Sines