quarta-feira, 9 de abril de 2014

( des )inspiração


Um dia qualquer, num daqueles dias improváveis, surpreendentes, em que a manhã se acinzentará, a tarde se envergonhará e a noite será mais negra do que breu, enfim, um dia para esquecer e não sobrar nem uma hora resgatada, para contar como foi e porque foi, eu sei que deixarei de me renovar. E perderei a inspiração.
Arrumarei as botas e descalça ficarei para continuar esta caminhada agreste, cheia de pedras no caminho.
Não colherei os frutos, porque não verei a semente. E a palavra deixará de florir, perdida a intenção.
Não mais te verei na curva da estrada e perder-te-ei. E também à motivação.
Sem objectivo, uma rosa, será não mais que uma flor como tantas outras. E nem branca a lembrar-me a mãe de todas as mães, a minha, nem amarela a lembrar-me memórias, estórias, passado, presente, nem vermelha a lembrar a paixão que se passeia por aqui, ainda, a tornarão uma flor especial, recorrente, imperial.
O perfume que me adoça e aviva o tempo, escolha minha, prazer meu, não mais será que um cheiro enjoativo e banal.
A criança não será senão o adulto em crescimento, cruel e manipulador. Crescendo-lhe a língua e o desejo de a não dobrar. E não o melhor que a gente tem e que há na vida. O futuro. A promessa de saltar o muro...
Uma lareira, um queimador de papéis e espalha-cinzas, que encardirão paredes e atearão fogo às chaminés. A cama, um mal necessário, descansa-ossos e servidor de necessidades e outras habilidades..
As ondas do mar derrubarão o paredão, demoníacas, um dragão...
E a lua, se não aparecer no firmamento, um transtorno para viajar noite fora, um desalento.
Quanto ao poema, esse, será feito de letras juntas, caderno de linhas, pontos finais, sem parágrafos e interrogação, muitos erros e desprovido de endereço e coração. Mais um escrito frustado, censurado, arremassado, para esquecer e rasgar.
Um dia destes, quem sabe se em data marcada, destino antecipado, não sei, talvez num daqueles dias inesperados, trágicos, tristes e sofridos, temidos e odiados, kármicos, deixarei de inovar e perderei a inspiração. Para sonhar.
Quando?! Será com certeza no derradeiro dia em que deixar de amar.

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