Já chorei, já ri, já ironizei e até já xinguei.
Já escutei canções de amor, antigas como eu, daquelas que tocavam em quarenta e cinco rotações, num tempo em que judas teve sarampo. E curou-se.
Já suspirei amores perdidos, palavras coloridas, promessas juro por deus, sangue de cristo, que ficaram na poeira, do sótão do esquecimento.
Lembrei beijos de mel, abraços do tamanho do mundo e albatrozes rumo ao sul.
Cheirei acácias vermelhas e flores de frangipani.
Toquei ao de leve passados que não são presentes e futuros que nunca serão.
Lamentei o silêncio e o tempo cheio de nadas.
Visionei amanhãs engalanados mas nem por isso conquistados.
E gargalhei com o lugar comum. Que é mais que muito e sabe bem. Para quem tem gosto, já se vê.
Hoje sentei até no muro do quintal lá de casa. E dali lancei um papagaio às cores, parecia era arco-íris. Olhei as rosas brancas e as goiabas oferecidas. Escolhi então uma manga. Madura. E lambuzei-me sem culpa nem desculpa.
Desfolhei um malmequer, bem-me-quer, muito longe está quem me quer bem. A quem eu quero bem. E emudeci. Caindo na real.
Hoje agitei-me, misturei-me e estranhei-me.
Ofereci-me e devolvi-me.
Despi-me e lancei-me. De cabeça para baixo. E só não fui avestruz porque dá muito trabalho. E a areia está a escaldar.
Hoje adormeci a dor e a saudade e acordei a ousadia e a liberdade. A alegria de sonhar.
Porque se sofro e sorrio, é porque sei gargalhar até à dor e fazer o caminho de volta.
Com os pés no chão e a alma voando sem hesitar.
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