Olhei o espelho. Mergulhei em mim. Cachoeira d' águas mansas. Transparentes. Espelhos d' água.
Olhos no meu olhar. Sem constrangimentos nem culpas ou desculpas. De frente.
Contemplando todos os eus de mim. A ver se algo mudara.
Era eu. Aquela mulher. Inteira. Vestindo a sua pele. Ocupando-a confortavelmente. Cabendo nela. Generosamente...
Em paz.
Tal como o coração. Tranquilo. Aplaudindo discretamente.
Era eu. Aquela mulher. De rosto lavado.
Nem sinais de baton. Eyeline. Máscara. Artifícios.
Sem faltas. Nem personagem. Ou qualquer produção.
Era eu aquela mulher. Simples. Limpa. Nua.
Alma serena. Completa. Pura.
D' olhos doces. Que me olhava. Do espelho.
Como se o tempo parasse e eu fosse um longo olhar.
Via-a bonita. Sim. Bonita.E renovada. Sem rugas ou sequer marcas de expressão.
Os lábios desejando beijar.
Como se o dia prometesse beijos da tua boca. E a vida nos abraçasse e embalasse na canção.
Podia ser Bocelli, Sinatra ou Betânia.
Mas era rouquidão, feito voz, sentimento, coração, de Pablo Alborán. E lhe escutasse,
- "Por fin lo puedo sentir/Te conozco y te reconozco que por fin/ Sé lo que es vivir/ Con un suspiro en el pecho/ Y con cosquillas por dentro/ Por fin sé por qué estoy así/ Tú me has hecho mejor/ Mejor de lo que era... "
Era meu o sorriso que o espelho devolvia. Era eu. Aquela mulher que sorria a desejar o mundo suspenso. A fazer-te eterno. Ali. Aqui...
Olhei o espelho. Coração silencioso. Batendo. Brandamente. Apelos mudos...
Olhos feitos mel. E boca à espera de beijos. Sabendo a beijos. Que me roubaram a alma e me devolveram vida.
Era eu aquela mulher. Que contemplava em si, o Amor. E cantava, baixinho e feliz, como se inventasse a canção,
" Y por fin sé por qué estoy así,
Tú me has hecho mejor
Mejor de lo que era... "
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