quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

os meus sentimentos


Os meus sentimentos não são matemáticos. Não dão resto Zero nem noves fora Nada.
Digo eu enquanto subo o viaduto e equaciono a minha vida.
Os meus sentimentos não são geometria.
Penso eu, enquanto faço a curva do caminho que me levará à recta da boleia para o trabalho e
contemplo a lua redonda, o castelo que tem tantos lados que podia ser hexágono e me entristeço
com a mentalidade quadrada de alguns seres que comigo privam ainda que superficialmente.
Os meus sentimentos são imateriais. Podem resumir-se a um sorriso para a Cândida que vai a caminho dos seus alunos para mais uma aula de matemática e se cruza comigo diariamente e meia dúzia de palavras mais um sorriso para a Guilhermina que hoje se adiantou, ou fui eu que me atrasei, contas mal feitas às horas, e que acabou de descer o viaduto para ir para o gabinete de contabilidade onde trabalha.
Os meus sentimentos desenham-se na memória afectiva.
Não são exactos nem estanques.
Não têm endereço certo nem são yoyó, pois que não diminuem nem aumentam consoante os interesses materiais.
Os meus sentimentos não fazem contas de cabeça mas apenas as do coração.
Não se dividem em países, ou credos, opções sexuais ou políticas. Tão pouco têm idade.
São o sentir de quem nunca teve boa nota a matemática, não teve, nem é, uma máquina de calcular.
Nunca desenhou com sucesso senão desenho livre.
Nunca somou interesses materiais nem os sobrepôs aos espirituais.
Enquanto penso no quadro negro, na ardósia e nas reguadas da vida, sim porque levei algumas, chego à conclusão que as levei porque nunca racionalizei, não soube fazer contas de multiplicar fortunas, não colori cifrões e tenho as contas bancárias praticamente a zeros.
Na verdade, percebo que a minha vida é feitas de contas furadas, e favas contadas em gratidão e alegria. Tranquilidade e esperança.
Os meus sentimentos são a minha fortuna. Digo eu que tenho os bolsos vazios mas o coração a transbordar, depois de todas as contas feitas.