Na madrugada nem sempre estamos sós, quando solitários que somos nos perdemos e encontramos por caminhos do coração e da introspecção. Num desses cruzamentos me disseram assim:
...desço para a nossa banda... algum recado para a kianda?
E eu respondi:
" O meu recado para a kianda?
- Me aguarde que eu volto.
Quero de novo tocar o céu com a ponta dos dedos, com a palma das mãos, ser tocada pelo som, cheiro e sabor da nguimbi e resgatar a minha alma no mais puro estado de ser.
Lá me quero permanecer, ficando, ficando até me acabar, para renascer.
Diz na kianda, que um dia vou encontrar a minha placenta para sempre, sem alianças com este
passado, mas num pacto de sangue com as minhas origens, raízes, amor e sonho de sempre.
Ela sabe o que sinto..."
Na madrugada, nem sempre desejamos o dia.
Há noites estreladas alumiando no meio do nevoeiro e das tempestades que nos acorrentam a
alma a um corpo cansado, dorido e por vezes, muitas vezes, vezes demais, mal amado.
Na madrugada, encontramos a luz dos caminhos que buscamos nas setas que o destino nos coloca na frente.
Na madrugada tudo se torna mais claro, limpo e puro.
Há vozes que falam com o coração e desejos que se tornam a nossa razão.
Na madrugada a kianda escuta o meu recado que não é senão a voz da minha pele, do meu corpo e da minha alma, em união, lendo o que está escrito nos céus.
Sem comentários:
Enviar um comentário