segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

a " gaja "afinal sou eu



" Esta gaja veio no mesmo avião que eu "...disse o mano Zé ao ouvir um programa que começou hoje, à uma da tarde na Antena 1, e que se chama " Começar de novo ".
Tocou o telemóvel. Era o mano Zé.
- Agora fazes programas de rádio?
- Eu????? Ah, estiveste a ouvir a Antena 1... ( gargalhadas )
- Ouvi dizer que " estavamos para embarcar a 29 de Julho à noite mas só embarcámos no dia 
seguinte às 4 menos 20 da manhã. Esperámos no carro ".
Quando ouvi isto disse para a Lurdes: 
- Esta gaja veio no mesmo avião que eu. Só falta dizer que parou no Gana.
- Esta gaja? É a tua irmã.
E ele não parava de rir enquanto me contava. E eu ri à gargalhada porque fui tratada por 
gaja o que não me incomoda nem um bocadinho mesmo se vem de quem vem, depois porque o mano 
Zé não reconheceu a minha voz mas reconheceu as minhas declarações e por fim porque eu 
própria quando me ouvi também não me reconheci. 
Foi um acaso, hoje, no programa, em que o amigo Joaquim de Lisboa Serra falou da sua 
história, ao terminar, ter sido anunciado o próximo programa que será com o meu depoimento, eles ouvirem duas ou três frases duma entrevista de mais de duas horas na minha sala de Torres Novas já há uns meses. 
A Inês Lopes Gonçalves, distinta jornalista, colega e amiga íntima da Ângela, minha filha e 
por coincidência curiosa, filha de um elemento do conjunto " Os Jovens " quem não se lembra? telefonou-me há uns meses, acho que no fim do verão perguntando se eu podia e queria falar sobre a minha experiência em 74/75 em Luanda, a minha vinda para Portugal e os primeiros tempos neste país. Eu sabia que seria difícil voltar atrás a esse passado tão doloroso, 
sabia também que escrevo melhor que falo, que sou trapalhona oralmente e que gravadores me 
inibem, que odeio ouvir a minha voz e que, enfim, não seria fácil, mas não há impossíveis 
para mim e não há, dizer não, a alguém que faz um trabalho que ainda não tinha sido feito e 
já estava na hora de o ser e ainda por cima amiga de casa das minhas crias, pessoa com quem 
estou quando calha, me trata com carinho e educação e por isso disse logo que sim, aceitava 
mergulhar no meu passado, nas causas e nas consequências, na mudança de rumo no meu destino. 
A Inês tinha pressa e não esperou que eu fosse de fim de semana para Lisboa e veio ao meu 
encontro, à minha casa, e esteve sentada comigo no sofá num fim de tarde conversando e 
pondo-me algumas questões. 
Tenho desse fim de tarde memórias gratas. De mim exorcizando mais uma vez as partidas do 
destino, e a curiosidade, o respeito e o carinho, o profissionalismo da Inês Lopes 
Gonçalves.
Há poucos dias a Inês ligou-me. Disse-me que a RTP ia começar com a série " E depois do 
Adeus " e que o programa " Começar de Novo" iria começar também aos domingos pelas 13 horas na Antena 1. 
Hoje a minha cria lembrou-me. Enquanto via a gravação da série que ontem gravou esperei 
pelas 13 horas. Ouvi todo o programa. A narrativa do Joaquim. A fantástica aventura que foi 
sair de Luanda numa traineira até ao Algarve.
Gostei do programa. Do conteúdo e da forma. A equipa está de parabéns. A Inês 
principalmente. 
No fim apareceu anunciado o próximo programa. E depois umas frases minhas. Lá está. O que o mano Zé ouviu. 
Na verdade não me admiro que ele não me tivesse reconhecido. Nem me admiro que a minha 
cunhada Lurdes me tivesse reconhecido de imediato. As mulheres são mais sensíveis e 
perspicazes. Eu levei uns segundinhos para me reconhecer, mas bastou dar ênfase a algumas 
palavras para perceber que era eu sem tirar nem pôr. Há coisas que nunca mudam.
Então é assim, meus amigos. Se não tiverem nada para fazer no próximo domingo sintonizem a Antena 1 pelas 13 horas e ouvirão o programa " Começar de Novo ". Onde é que eu entro? A dar o meu testemunho sobre o que aconteceu em Luanda, perto de mim, no que me foi dado ver, sentir e viver desde o 25 de Abril até chegar a Portugal com o título de efugiada/retornada. 
Ainda agora se me lembro do mano Zé dizendo " Esta gaja veio no mesmo avião que eu " 
parto-me a rir para quebrar a emoção que senti de algo que disse à jornalista e de que não 
me lembrava já. 
" Fizemos escala no Gana e foi uma felicidade perceber que ainda estava em África ".
Há sentires que nunca mudam. Graças a África!

m.c.s.

P.S. Até domingo então.

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