terça-feira, 29 de janeiro de 2013

para começar de novo




Nesta manhã de domingo
Chega-me aos olhos o azul verde-água
Mar das minhas memórias
Amarela-se até ao vermelho sangue e  fogo, 
O meu olhar
Adormecido na paisagem 
E prenhe da savana, 
Do planalto e do deserto
Chega-me o perfume da flor do frangipani
E nos tons rubros, as acácias
Chega-me o sabor da kitaba e do bombô
O som do mato adormecendo
E o vôo livre do albatroz
Na emoção da liberdade de voar

Nesta manhã de domingo
Toca-me uma doce saudade
Uma terna lembrança
Uma grata e ilusória presença paternal 
Chega-me a vontade de desafiar 
As linhas do destino
Que trago guardadas na palma da mão
No meu coração

Um dia,
Não hoje, 
Que me correm rios nos olhos
Que insistem em ler nas entrelinhas
Passados calados
Fingidamente apagados
Não hoje, 
Que oiço milhares de angolanos 
Na minha voz

Um dia, 
Os rios saltarão os açudes,
Seguirão na sua corrente lógica e normal  
E correrão para o mar
O meu mar 
Que me chega hoje aos olhos 
Numa tonalidade azul verde-água
E eu chegarei a casa
Finalmente
Para começar de novo...

m.c.s.

Sem comentários: