sexta-feira, 28 de outubro de 2011

viva o poeta

Lhe escrevo hoje num despudor atrevido de quem gosta mesmo é de escrever e atirar palavras p'ra quem as apanhar, não de jogar conversa fora, entenda-se, palavra do tipo carapuça, que agora já vai estando em tempo de lhe enfiar do cacimbo que faz nas noites mais longas e frias que o calendário já ajustou com o tempo.
Mas não lhe escrevo só por isso. Há muito que estou para lhe escrever mas não tinha pretexto. Esta mania de querer rimar sem ter a palavra certa vai ter de me passar um dia, porque afinal não sou poeta e apenas versejo no sonho de crescer até chegar no ponto de lhe sorrir assim, acreditando que afinal a rima que lhe dedico faz sentido.
Lhe escrevo hoje porque me disseram para lhe escrever, as vozes que costumo ouvir, que eu gosto de vozes bangosas e kambas que me sopram no ouvido, que nem kianda emergindo das águas cálidas do sul mais a sul que este sul, que até há quem pense que fico com kalundu, não sei se fico, mas lhes oiço e lhes obedeço porque hoje faz sentido. Digo eu, que me tenho remetido no silêncio dos deuses, só porque sim, mas não me fingindo de morta porque a inquietação não deixa ficar parada tempo demais, mas fico só a olhar, a olhar, quieta no meu canto, bebendo versos, saboreando cores e cheiros num banquete onde não faltam amores e desamores, memórias e outras estórias. Sempre nos poemas rimados e por rimar e mesmo naqueles que nunca vão rimar porque me disseram que poesia é assim mesmo. O que precisa é encantar e lhe juro mesmo sangue de cristo, que esses poemas e prosas encantam quem deles se alimenta, se abandona na arte de despir a pele curtida e vestir a alma ávida.
Lhe escrevo hoje porque o dia nasceu rimando no poema que transforma o dia normal em dia prenhe de poesia.
Lhe escrevo hoje só para lhe dizer isso tudo aí.
Viva o poeta.

3 comentários:

nuno medon disse...

O poeta é um sofredor ( ou não ), depende se um dia amou ou não. Penso que é devido ao Amor que a poesia existe. O poeta é um romântico, bem como os poetas deste Mundo. tem o dom da palavra, manuseia a palavra como quem manuseia plasticina. Eu também gostava de escrever poesia, mas não tenho jeito. Ler, ainda vou lendo, mas comentar nem por isso. beijos e um bom fim de semana. gostei do texto.

constancia disse...

Quase que faço minhas as palavras do Nuno. Gostei principalmente desse "tem o dom da palavra, manusei-a como se fosse plasticina. É isso mesmo, a Clara brinca com as palavras, formem elas prosa ou poesia.
Gostei muito. Beijinho grande e bom fim de semana.

Maria Clara disse...

Obrigada aos dois.
São uns queridos.
Um bom fim de semana para ambos.
:)