Há uns meses atrás, recebi de presente, um jantar no Alfama-te a 10, jantar esse que se realiza às quintas-feiras, assim haja inscrições. Tem a particularidade de serem dez desconhecidos que se juntam à mesma mesa para umas horas de interessantes descobertas, de sã confraternização e até de futuras amizades. Acontece sempre em Alfama, em páteos ou dentro de casa de residentes que cozinham para o efeito prestando um serviço ao Alfama-te, organização de que faz parte uma pessoa muito muito chegada a mim há trinta anos e mais nove meses, num chega-te para cá que até pareço um canguru carregando a pessoinha na bolsa marsupial com muito cuidado, amor e protecção. Foi ela que me ofereceu de presente de Natal uma entrada (que pagou ) no dito jantar.
O Alfama-te é um projecto giríssimo que só pessoas social e politicamente livres, altruístas e generosas podem levá-lo para a frente. Desde que Joana, o Fred e a Ângela se afincaram nele, passaram a dinamizar o bairro e a acrescentar materialmente, algo, a umas quantas pessoas e famílias do dito bairro que não é senão, Alfama.
Os jovens que gostam do conceito divertem-se dançando, comendo, bebendo e convivendo duma forma mais saudável, formando já uma família pois que ficam a conhecer-se e comparecem a todas ou quase todas as festas. Festas essas que costumam ser temáticas.
Desta feita, em meados de Dezembro e antes do dia 21 a festa terá como tema O Fim do Mundo. Irão assim comemorar o fim do mundo que são as festas do Alfama-te todas as pessoas que compareçam fazendo-se acompanhar de um qualquer género alimentício cozinhado ( enlatados por exemplo ) que em vésperas de Natal serão distribuidos pelos sem abrigo do bairro e de Lisboa.
Mas voltando aos jantares do Alfama-te que se chamam Alfama-te a 10 e ao meu jantar oferecido no Natal, digo que foi com curiosidade e alguma desconfiança que me fiz presente. Apenas conhecia os três organizadores que são jovens e o tal jantar era de gente com mais de 50 anos, excepção aberta naquele dia pois que costumam ser jantares para todas as idades subentendendo-se que não é alargado a crianças, claro. Também excepcionalmente foi num lugar de nome Tejo Bar que obviamente fica em Alfama e pertence à Mira, uma brasileira simpática e afável que nos recebe com beijinhos e um sorriso nos lábios e nos deixa completamente à vontade. Tão à vontade que é normal ouvir-se cantar e tocar, dizer poesia, quando os clientes agarram num qualquer instrumento musical dos vários espalhados pelo bar e tornam a noite ali dentro num espaço de arte e harmonia.
O " meu " jantar iniciou-se com algumas palavras de cada um dos participantes no intuito de nos identificarmos, seguido de algumas respostas dadas aos organizadores para que o ambiente desanuviasse e se tornasse mais agradável quebrando-se o gelo e algumas inibições.
Fui então surpreendida por uma pergunta que não me foi feita apenas a mim mas a todos quantos estavam à mesa.
- Se hoje acabasse o mundo o que farias?
Ouvi as várias respostas. Não temia que a minha resposta pertencesse a qualquer outro. Esperei pela minha vez para responder sem hesitação.
Será que adivinham, vocês que me lêm? Vocês que são família? Vocês que são amigos?
Arrisquem, vá lá...
Pois. Então não sabem?
À pergunta, respondi que precisava de sete horas. O meu fim do mundo era ( quase ) no fim do mundo, por isso precisava de sete horas.
Para quê? Perguntaram. Perguntam vocês. Se perguntam é porque não adivinham.
Ok. Não posso exigir muito de amigos virtuais. Mas há os que são mais que virtuais daí a minha insistência.
Não vou bater mais no ceguinho, até porque aposto que há quem já saiba, cumprindo o ditado de que na terra de cegos, quem tem um olho é rei.
Pois então adivinhou. Sete horinhas de avião e eis-me chegada a Luanda para cumprir o meu destino. O fim, apesar de que odeio fins, sejam eles quais forem mas este é outra coisa, é um final feliz porque não fica ninguém para contar como foi que é como quem diz, finando-se tudo é uma alegria pois que não se ficam a rir uns dos outros.
Chegada a Luanda acho ia pôr-me na Ilha a olhar a baía, as luzes a espelharem a água, a lua a prateá-la e assistiria ao fim do mundo no último acto de amor para comigo e para com a minha terra. Em festa...
Então? Quem sabia? Estava na cara de tão óbvio. Quem sabia, conhece-me. É meu amigo de verdade e por isso agradeço pois que não anda aqui aos papéis, a ver passar os comboios, os aviões, que é como quem diz, os meus textos, poemas, pensamentos, músicas e outras publicações.
Se eu acredito que o fim do mundo será dia 21 de Dezembro? Diz que sim, mas eu digo que não acredito. Acredito sim na festa temática " O fim do mundo " que o Alfama-te vai levar a cabo no mês de Dezembro em Alfama. E acredito também que será um fim de mundo como aliás todas as festas do Alfama-te. Por isso aconselho a que vão. Poderão comer,.beber e dançar ao som de música bem fixe por DJ muito conceituado no meio. Ah, e não se esqueçam, uma lata de atum, de salsichas, um paté, uma lata de grão,de feijão. Qualquer coisa na generosidade que sei que possuem. Os sem abrigo não deixarão de o ser, não será um fim de mundo se vocês não forem e nada levarem, não será o fim do mundo para eles, mas fazia a diferença.
Despeço-me por hoje com um até já. Não estou num fim de mundo nem tão pouco quero ir ao fim do mundo, a menos que valha a pena, mas tem dias que se o fim do mundo viesse a mim, ia adorar. Só para perceber como é. Só para exorcizar essa coisa de escrever, the end.
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