sábado, 10 de novembro de 2012

história das histórias


Gosto de contar estórias e histórias. E há-as. Às histórias e estórias. 
Esta é uma história que me aconteceu. A história! Que me mudou para sempre.
Verdadeira. Sublime e longa. Que desejo como não desejo mais nada, que persista para além do tempo e de mim, por muitos anos.
Daria a minha vida se pudesse, para que jamais se escrevesse nela, o fim.
Porquê? Porque esta história mudou a minha vida. 
Porquê? Porque esta história é a minha vida.
Porque é uma história de mulher. De mãe que deu vida ao mundo. 
Sim porque não há nada mais sagrado do que dar à luz. 
E hoje, há trinta anos eu pari um bebé de 4,200 quilos e 50 cms, moreno, cabeludo e chorão, na maternidade do hospital de Torres novas, às 00,40 horas.
Era véspera de São Martinho, que se comemora com bastante entusiasmo e tradição no Ribatejo, nomeadamente na Golegã, a 10 minutos de Torres Novas. Era véspera da data que prezo tanto com as datas mais importantes a assinalar na minha vida. Véspera da Independência da minha terra.
Eu era uma menina de 26 anos quando soube que estava grávida. Invadiu-me uma alegria sem fim. Uma curiosidade imensa de saber como seria o meu bebé que queria menina.
Com o decorrer dos meses tornei-me espaçosa, mais bonita e vaidosa com o barrigão que ostentava. Inchei, enjoei, sonhei, esperei.Nove meses. 
No tempo que inevitavelmente esperei, aprendi a fazer malha para fazer botinhas, casaquinhos, fatinhos, gorros, luvas.Li livros, revistas, publicações sobre pais e filhos, bebés e mães.Escolhi nomes, escolhi roupas, berço, porta bebé e cadeirinha. Banheira e cestinho com os produtos de higiene. 
Foi um tempo bom, de encantamento e beleza sentindo um pequenino ser desenvolver-se no meu ventre. Fui a grávida mais orgulhosa de todas as que conheci. Como se fosse a única grávida que algum dia existiu no mundo e todos os seus arredores.
Trabalhei até ao fim. 
Chegou a terça-feira. Dia de mercado semanal na então vila. A noite fôra inquieta e dolorosa. Faltavam três dias para o fim do tempo, nas contas da dr. Alzira Amaral, obstreta angolana a residir no Ribatejo.Passei a noite no sofá da sala tentando dormir sem incomodar quem dormia. 
De manhã tinha a certeza de que o meu bebé do qual não sabia ainda o género, apenas sabia que se fosse menina se chamaria Ângela, ia nascer breve. 
Assaltou-me um pânico profundo desse momento. Com um umbigo do tamanho do mundo achava que me finava no momento do nascimento. Sempre ouvira estórias tristes sobre este assunto. Eu certamente iria para a estatística aumentando o número.
Não me apetecia comer enjoadíssima que estava. Fui à mercearia de onde gastava e comprei uma torta Dan Cake de chocolate e foi o que comi ao longo do dia.À tarde resolvi ir à médica que dava consulta na Golegã, vila em festa com as comemorações do São Martinho. Após o toque foi-me dito que deveria ir ao hospital pois que estava por horas o nascimento do meu bebé.
Fiquei com o coração tão apertadinho que a partir dali só queria dormir. Mas o meu bebé tinha de nascer. Era inevitável. 
Foi mais ou menos rápido visto de fora e agora. Vista pela freira que tinha fama de ser do pior nas relações que tinha com as parturientes, coisa que não comprovei porque foi um amor comigo, voltei a casa pois ainda faltava uma horas. 
Voltei por volta das dez da noite julgando que não seria capaz de parir a minha cria. E eu que não sou invejosa, olhava as mães que dormiam repousadamente na enfermaria e queria estar nos seus lugares. 
À meia noite mais coisa menos coisa passei para a sala de partos. Apenas a parteira a ajudante e eu. E o meu bebé até áquele momento protegido por mim. 
Foi fácil e lindo o seu nascimento. Duas oo três vezes fazendo toda a força que conseguia, não na garganta como errada e inexperientemente julgava, mas no ventre e foi-me dito que estava a nascer. Depois o choro engasgado e ficou ao pendurão junto a mim. Uma menina. 
Que sensação boa foi ver o meu bebé pela primeira vez...
Senti-me a mais importante das mulheres. A mais abençoada.
Passaram trinta anos e continuo a sentir a mesma emoção.
Passaram trinta anos e a bebé deu lugar a uma mulher.
Inteligente, elegante, bonita, trabalhadora e amiga.
A minha filha querida.
Parabéns meu amor!

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